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Festa das Sementes Crioulas, em Ipê, RS

De: G. Dotti
Date: 23/05/2001

Brasil

Acontece no dia 17 de junho, em São Valentin - Ipê - RS, a 3ª Festa das Sementes Crioulas. É uma boa pauta para quem se interessa pelo tema biodiversidade agrícola e quer conhecer de perto o trabalho de resgate de sementes crioulas que vem sendo realizado no sul do Brasil.

Estão todos convidados a participar.

O evento é promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ipê e Conselho das Associações de Agricultores Ecologistas de Ipê e Antônio Prado, com o apoio do Centro Ecológico Ipê, Emater/RS, Pró-Guaíba, Comunidade de São Valentin e Paróquias de Ipê e Antônio Prado.

Houve um tempo em que as plantas cultivadas na agricultura que conhecemos hoje existiam como plantas silvestres, que cresciam nas matas e campos entre outros arbustos.

Há 12 mil anos, o homem começou a domesticar estas plantas, dando início à agricultura, uma atividade recente se lembrarmos que a formação da Terra aconteceu há 4,5 bilhões de anos e que a espécie humana habita o planeta há 5 milhões de anos.

Com a agricultura, iniciou o processo de seleção das sementes. A cada plantio, as melhores sementes eram separadas e serviam para os próximos cultivos.

Chamadas de tradicionais, comuns, domésticas, caseiras ou crioulas, estas variedades chegaram até nossos dias pelo sistema de cultivos tradicionais e pela trocas. A domesticação e seleção das culturas que conhecemos hoje foi feita pelos agricultores, num processo de tentativas, acertos e erros.

Mas a introdução dos agrotóxicos, a partir dos anos 50, através da chamada Revolução Verde, mudou a forma de fazer agricultura no mundo todo.

Neste período, dois fatores estimularam agricultores a abandonar as variedades crioulas: a propaganda da indústria, que desprezou todo o conhecimento local, e o progressivo empobrecimento dos solos, pelo uso intensivo de agrotóxicos. Com isso, as sementes híbridas - e mais recentemente as transgênicas - passaram a ser comercializadas em grande escala, reduzindo consideravelmente a biodiversidade agrícola. Calcula-se que 75% das 1500 espécies domesticadas pelo homem, através da agricultura, já foram perdidas.

No início dos anos 80, porém, surgiu um fato novo, principalmente entre pequenos produtores rurais do sul do Brasil. Um crescente número de grupos de agricultores abandonou o uso de agrotóxicos, migrando para a produção ecológica de alimentos.

Esta mudança de sistema de cultivo criou novamente as condições de solo para o uso de sementes crioulas. Através do resgate e conservação destas sementes, e do estímulo à troca, estes grupos estão preservando a biodiversidade agrícola e, ao mesmo tempo, estruturando uma nova fonte de renda para suas propriedades e associações.

Na região de Ipê e Antônio Prado, este trabalho específico com sementes começou há 13 anos, pelas mãos do Centro Ecológico Ipê, e hoje é levado adiante com a parceria de famílias da região, da Emater e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ipê, que mantém a Casa das Variedades Crioulas. Atualmente, estão sendo utilizadas para plantio na região 18 tipos de milho, 60 tipos de feijão, 8 tipos de alface, 15 tipos de tomate e 10 tipos de morangas e abóboras, entre outros produtos.

A 3ª Festas das Sementes Crioulas, que acontece no dia 17 de junho, na comunidade de São Valentin - Ipê - RS, é mais uma atividade com a intenção de difundir o resgate e a utilização das variedades tradicionais nas pequenas propriedades. O evento está sendo organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ipê e pelo Conselho das Associações de Agricultores Ecologistas de Ipê e Antônio Prado.

Grupos de todo o Estado vão estar expondo suas sementes e mudas com o objetivo de obter sementes que ainda não dispõem e compartilhar com outros agricultores as variedades tradicionais que já cultivam. Além da feira de sementes, haverá oficinas e programação artística. O evento tem o apoio do Centro Ecológico Ipê, EMATER/RS, Comunidade de São Valentin, Pró-Guaíba e Paróquias de Ipê e Antônio Prado.

Este projeto também pode ser conferido através de visitas à Casa das Variedades Crioulas, ao Centro Ecológico Ipê e a famílias de agricultores que estão utilizando sementes crioulas como base de produção em suas propriedades.


Última atualização: 06 setembro, 2011

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