AgirAzul Revista 1992-1998

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AgirAzul 1

Carta Aberta ao Instituto Liberal

A ADFG‑Amigos da Terra lançou publicamente esta carta dirigida ao Sr. Carlos Biedermann, presidente do Instituto Liberal do Rio Grande do Sul, que, em artigo na Zero Hora, criticou a atuação de ecologistas. 

Caro Senhor:

Considerando sua inédita tese de que  vidas humanas às milhares se perderam e se perdem pela ação dos movimentos preservacionistas (Zero Hora, 20‑5‑1992), dada a gravidade da ocupação, para que a sociedade possa tomar as providências necessárias e a proteger‑se de tão perversos assassinos, solicitaríamos a V. Sa. mencionar quais grupos desencadearam esses processos, assim como quando e onde aconteceram e o número de vítimas.

Quem teve a responsabilidade pelas tragédias de Minamata, Seweso, Bhopal, Goiânia, Vila Socó/Cubatão?

Minamata, Japão, década de 50. Instala‑se uma fábrica de petroquímicos, começando a poluição por mercúrio. Em poucos anos alastra‑se pelo vilarejo uma até então desconhecida doença, matando primeiro as crianças e os idosos. Multiplicam‑se os abortos e as más‑formações congênitas, distúrbios psicomotores, criando inválidos para toda a vida e que afeta também a cadeia genética. A comunidade internacional levou 12 anos para reconhecer oficialmente a causa da doença ‑ contaminação por mercúrio. Os responsáveis ‑ indústria e ministro da saúde ‑ foram julgados e condenados. 

Seweso, Itália ‑ 10/07/76. Na fábrica ICMESA (Hoffmann La Roche) uma explosão libera um pó branco na atmosfera, aparentemente inócuo. Não existe técnico à disposição. Passados alguns dias, a morte dos animais e os graves distúrbios em toda a população atingida não podem mais ser ignorados pela Matriz de Genebra. A população foi evacuada e a área, interditada durante anos. O pó branco era a dioxina, um dos piores venenos criados pela indústria química.

Bhopal ‑ 3/12/84. Consuma‑se uma das maiores catástrofes industriais. Uma sirene de alarme soa na fábrica da Union Carbide. O inspetor geral tranqüiliza os operários ‑ nada pode acontecer. Horas após, espalha‑se uma nuvem tóxica. Duzentas a trezentas mil pessoas atingidas. Estimativas oficiais calculam cerca de 1.700 vítimas letais e 40 a 60 mil gravemente lesionados para sempre. “O Gás da Morte ‑ como o progresso industrial ameaça a Vida” ‑ Capa de Veja em 12/12/84.

Quais os culpados? Será preciso transcrever a resposta?

E quanto aos agrotóxicos? Quem os têm promovido em campanhas de propaganda milionárias (principalmente no 3º Mundo) levando a seu uso abusivo, com desastrosas/trágicas conseqüências?

A ECO‑92 ‑ o acontecimento mais importante da história da humanidade, segundo a ONU, foi convocada devido à extrema gravidade da crise ambiental e à urgente necessidade de conciliá‑lacom os caminhos do desenvolvimento.

Fossem os problemas tão simples, como V. Sa. parece acreditar (trazendo exemplos como “galinhas e vacas são preservadas porque são propriedades privadas”), justificar‑se‑ia acontecimento de tal magnitude, acarretando despesas bilionárias e movimentando o maior número de chefes de estado jamais visto?

Para entender‑se o pensamento ecológico e a problemática econômica‑social e política que envolve, aconselharíamos a leitura de alguns clássicos sobre o tema, que colocamos à disposição do público e, em especial, de V. Sa., em nosso escritório, à rua Miguel Tostes, 694.

V. Sa. passaria então, talvez, a abraçar uma nova corrente empresarial ‑ que hoje finalmente começa a se expandir ‑ adaptando a economia aos imperativos da ecologia, no respeito à vida em todas as suas múltiplas manifestações.

Sendo o que queríamos comunicar‑lhe e ao público em geral, atenciosamente, 

(assinam) 

Magda Renner, 

 Presidente, 

e Giselda Castro, 

 Vice‑presidente.






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