AgirAzul Revista 1992-1998

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CONFERÊNCIA DO RIO

O Mundo Moderno e a ECO‑92

Por José Antônio Lutzenberger

O mundo moderno, esta cultura industrial global, que agora conquista e submete os últimos recantos de natureza e culturas ainda intactas do Planeta, encaminha‑se para um desastre. As agressões aos sistemas de suporte de vida alcançam magnitudes tais que já estamos interferindo nos mecanismos de controle do clima. Da Patagônia nos vem relatos de que o buraco de ozônio já está causando cegueira em ovelhas e outros animais. Por quanto tempo poderemos continuar?

Por isso, vinte anos após a Conferência de Estocolmo, estarão reunidos no Rio de Janeiro, em junho deste ano, os chefes de estado da maioria dos países. A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, se não fracassar, deverá ser o mais importante encontro na história de nossa espécie. Estaremos discutindo não nossas desavenças e conflitos, mas sim, como mudar nosso comportamento para salvar o planeta vivo, GAIA, único planeta vivo de nosso sistema solar. Planetas de outras estrelas ainda não conhecemos. Provavelmente nunca os contactaremos, muito menos teremos condições de visitar ou colonizar. A Terra temos que salvar!

É de esperar‑se sejam assinados por grande número de países, inclusive os Estados Unidos, ainda relutantes, os convênios e acordos previstos, sobre florestas, biodiversidade, clima e resíduos tóxicos e uma boa Agenda 21..Mas a Conferência só será um sucesso se a Carta da Terra contiver questionamentos fundamentalmente novos.

A Humanidade está hoje dividida em ricos e pobres. Os ricos praticam um estilo de vida de consumismo e de esbanjamento de recursos irrecuperáveis que não é sustentável para eles e que não pode ser extendido a todos. Isso só aceleraria a corrida ao desastre. Mas a doutrina política predominante prega justamente esta extensão. Enquanto dura o atual estado de coisas os ricos se tornam cada vez mais ricos e mais poderosos e os pobres ficam cada vez mais pobres e mais fracos.

Uma nova consciência precisa emergir do Encontro. Precisamos repensar o que realmente queremos, o que entendemos por progresso, por desenvolvimento, como medir a real riqueza de uma nação, que não pode ser medida apenas em termos de fluxo de dinheiro. Precisamos repensar os postulados básicos de nosso pensamento econômico.

Reexaminada terá que ser nossa cosmovisão. A Sociedade Industrial Moderna encara o Planeta como mero repositório de recursos, de matéria prima para nosso consumo e satisfação dos mais absurdos e efêmeros caprichos. O Grande Caudal da Vida, do qual somos parte, é visto como se fosse uma empresa em liquidação. 

Mas a Terra é um sistema vivo. Num organismo os órgãos não podem brigar entre si. Civilização e Criação não podem manter‑se em conflito.

Se a Conferência não conseguir marcar um novo começo, não conseguir desencadear uma revolução moral, terá sido uma chance perdida para a Humanidade e a Vida, talvez a última.






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