AgirAzul Revista 1992-1998

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Unidades de Conservação - Parque Estadual de Itapuã -  Falta a Implantação Definitiva!

Por Rogério Só de Castro*

Com 5533 hectares localizados no município de Viamão e distante apenas 60 Km do centro de Porto Alegre, o parque apresenta uma diversidade de ecossistemas dificilmente encontrada em outros lugares. Morros, matas, campos, banhados, praias, dunas, lagoas e o lago Guaíba integram‑se harmoniosamente, proporcionando refúgio para animais ameaçados de extinção como o bugio ruivo, a lontra, o urubu‑de‑cabeça‑vermelha e o jacaré‑de‑papo‑amarelo, além de ser parada obrigatória para diversas espécies de aves migratórias. Em suas matas, Itapuã abriga figueiras seculares e grande variedade de frutíferas nativas como araçás, pitangas, araticuns, tarumãs.<T>Ocorre também uma espécie de palmeira híbrida, resultado do cruzamento da palmeira do campo (butiá) com a palmeira do mato (gerivá) e uma pequena e delicada plantinha que se alimenta de insetos, a drósera.

Dos vários pontos importantes, levando‑se em consideração apenas a beleza paisagística, destaca‑se o Morro da Grota. Do alto dos seus 286m contempla‑se o azul escuro da Lagoa Negra contrastando com o a coloração mais clara, marrom acinzentado, da Lagoa dos Patos. Esta coloração escura é resultado da grande quantidade de matéria orgânica em suspenção. Na subida até o topo do morro,encontramos os afloramentos graníticos, característicos da região, recobertos por bromélias, cactáceas e orquídeas formando verdadeiros “jardins suspensos”.

Mas a história de Itapuã não é só de belezas intocáveis como pode parecer. Em algumas regiões do parque são encontrados vestígios da cultura dos índios Guaranis, que em tempos não muito distantes, habitavam a Praia das Pombas e arredores da Lagoa Negra. Estes sítios arqueológicos mostram a maneira como estes índios viviam através de restos de utensílios (potes e vasílias de barro) bem como restos de animais (pelos, ossos).

Itapuãtambém guarda passagens de guerra e nos conta um pouco do Rio Grande do Sul.Do alto do Morro da Fortaleza avista‑se uma pequena ilha, a ilha dos Juncos, distante 1 Km da costa. Qualquer embarcação que chega da Lagoa dos Patos em direção a Porto Alegre tem que passar por ali. Sabendo disto os farrapos ocuparam a posição estratégica do Morro, instalando canhões e utilizando as formações graníticas naturais para abrigar as tropas.Ainda existem alguns lanchões afundados pelos farrapos no Lago Guaíba e que já foram objeto de estudos do Grupo de Estudos Farroupilhas e mais particularmente do historiador Cary Vale.

Mesmo contando com todos estes requisitos para se tornar um parque modelo, a efetivação do Parque Estadual de Itapuã não esta sendo nada fácil. Criado em 1973, o parque vem resistindo governo após governo ao descaso das autoridades e a todo tipo de depredação. A retirada de pedras, a caça e a pesca predatória, invasões para a construção de casas de veraneio e o não pagamento das desapropriações, depois de 19 anos de sua criação, quase inviabilizaram o aproveitamento daquela área como unidade de conservação.

No início dos anos oitenta a invasão de casas de veraneio ganha um novo aliado, a prefeitura de Viamão. Passando por cima dos decretos que desapropriavam aquela área, o hoje deputado Tapir da Rocha, prefeito de Viamão na época, cobra impostos e abre ruas na Praia de Fora, incentivando o loteamento clandestino.

Em 1985, indignados com o corte de pedras no parque e a velocidade com que crescia o loteamento ilegal na Praia de Fora, um grupo de pessoas ligados a entidades ambientalistas e acostumados a acampar na região resolve se organizar e forma a Comissão de Luta pela Efetivação do Parque Estadual de Itapuã (CLEPEI). Manifestações, denúncias nos meios de comunicação e passeios ao parque foram organizados com a finalidade de informar a população a real situação e as barbaridades que aconteciam na região. Reuniões com os órgãos públicos, com secretários e com os próprios governadores foram realizadas na tentativa de solucionar os problemas do parque. A persistência e determinação destas pessoas não foi em vão.

A primeira grande vitória da CLEPEI veio com a retirada das pedreiras, pondo fim a uma devastação de mais de vinte anos. Já em dezembro de 1991 a CLEPEI acompanha a retirada dos invasores da Praia de Fora depois de três anos de luta judicial.

Mas a luta pela efetivação do Parque Estadual de Itapuã ainda está longe de terminar. Desde 1991, administrado pelo Departamento de Recursos Naturais Renováveis (DRNR), órgão responsável por todos os parques estaduais, as perspectivas são bem melhores. Mas problemas como o pagamento das desapropriações, a falta de funcionários e equipamentos para a fiscalização e a demolição das 800 casas que permanecem na Praia de Fora após a retirada dos invasores, ainda não encontraram solução.

O Governo do Estado dá demonstrações claras da falta de prioridade nas questões ambientais.

Recentemente, em 24‑4, membros da Comissão estiveram com o então Secretário da Agricultura, Aldo Pinto, reivindicando a instalação de uma sede administrativa, retirada de todos os invasores e investimentos em melhoramentos gerais. Esperamos todos que o novo Secretário mantenha a palavra de seu antecessor.

Precisamos de mais pessoas nesta briga para que o governo estadual se convença da importância de investir nos Parques Estaduais, pois não se cuida do meio ambiente apenas com “boas intenções”.A comissão está aberta a todos que quiserem participar deste desafio. Participe. As reuniões são semanais, às quartas‑feiras, 18h30min, na sede da AGAPAN. Informações pelo telefone (051) 228‑7352. A Comissão de Luta é, atualmente formada pelas seguintes entidades: AGAPAN, DAIB (UFRGS), CAEG (UFRGS), FUNATURA, GEV.

* Ao tempo da publicação deste artigo, em 1992, 0 autor participava da CLEPEI.






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