AgirAzul Revista 1992-1998

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AgirAzul 12

Capina Química

A um engenheiro da Cyanamid

Por Arno Kayser*

Há poucos dias recebemos em nossa casa enorme correspondência do engenheiro agrônomo Francisco Alves, mestre em controle de plantas daninhas em áreas não agrícolas da Cyanamid Química do Brasil, empresa fabricante do Arsenal NA, que a prefeitura de Novo Hamburgo usou sem o devido licenciamento ambiental nas ruas de nossa cidade. A ele dirigimos esta correspondência cujo conteúdo gostaríamos de repartir com a população do Vale do Rio dos Sinos.

“Caro Francisco. Agradeço o gentil envio dos vários trabalhos técnicos acerca do Arsenal NA. Sempre é bom receber informações. Gostaria de te dizer que por muitos anos administrei o horto de minha cidade. Neste tempo, produzimos mais de 350 mil mudas de árvores nativas que hoje estão espalhadas por vários rincões do Rio Grande. Também conseguimos produzir toneladas de verduras que alimentaram milhares de crianças nas escolas de Novo Hamburgo. Além disso, funcionamos como imenso espeço de aprendizado aonde milhares de crianças aprenderam os fundamentos de uma relação harmoniosa com a natureza. Este foi o meu mestrado. Nele aprendi que é possível produzirmos sem o uso de substâncias estranhas ao ciclo evolutivo que ocorre na biosfera.

Nesta experiência nunca vi uma criança se referindo a uma planta como um inimigo a ser combatido. Ao contrário, todas sempre demonstraram imenso amor por estes maravilhosos seres. É claro, tivemos que manejar algumas espécies espontâneas no sentido de garantir espaço para as plantas que cultivamos. Posso dizer com orgulho que nesta tarefa vários trabalhadores ganharam com dignidade o sustento de suas famílias. Homens que trabalharam felizes sob meu comando, estimulados pela idéia de estarem contribuindo para a educação dos cidadãos do futuro. Direito que alguns deles próprios não puderam gozar de pleno em suas infâncias por coisas deste Brasil. Este trabalho ajudou-me a granjear um imenso respeito profissional junto à comunidade da minha região. Respeito que nos deu respaldo moral para movermos uma ação dos cidadãos desta cidade contra o uso de seu produto.

Nestes anos, muitas vezes, tive que enfrentar a opinião de senhores da academia altamente titulados e profundamente devotados à tarefa de iludir as pessoas fazendo-as crer que os venenos agrícolas eram inofensivos.

Infelizmente, os fatos da história recente nos mostram que nunca tanta gente morreu ou contraiu moléstias terríveis como nestes últimos 50 anos em que os agrotóxicos foram largamente usados neste mundo. Foi isto que me fez colocar-me do lado da vida e ao contrário de alguns poucos burgueses, não ver nada de mal no crescimento de algumas ervas entremeadas na pavimentação urbana.

Por isso agradeço a gentileza de teres nos enviado o material sobre vosso produto. Seu estudo não modificou a opinião já externada publicamente e nos deixou mais bem preparados para o bom exercício desta missão que abraçamos como ideal de vida. Agora temos uma idéia melhor de como agem empresas como a vossa e é isto que queríamos repartir com o povo desta terra que não quer venenos espalhados pelas ruas."

O autor é presidente do Movimento Roessler de Defesa Ambiental - contatos através do fone/fax (051) 594-1762. Caixa Postal 2115 - 93510-000 Novo Hamburgo, RS (este artigo foi publicado originalmente no jornal NH em 11 de setembro de 1996 - republicado sob licença do autor).






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