AgirAzul Revista 1992-1998

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AgirAzul 12

A Tragédia da Natureza

por Augusto César Cunha Carneiro

A Natureza é continuamente agredida pelos humanos, incentivados, geralmente, pelos governantes, quando não sejam estes mesmos os maiores agressores. Mas há pessoas que acham que os governantes seriam os encarregados de resguardá-la e protegê-la, mas não é o que sucede.

Por estranhas voltas do destino, o governador Euclides Triches, em 1972, incentivado pelo então Secretário de Turismo, Edson Batista Chaves, entregou a construção do Parque Estadual Turístico da Guarita, em Torres, a um ecologista. O local era ocupado por mais de uma dezena de casas de invasores e posseiros, conforme comprovam fotos da época.

O então futuro Parque se situou bem onde estão os principais morros que dão nome à cidade. Já havia, na época, um aproveitamento turístico, mas limitado e anárquico. A cobertura dos morros era constantemente queimada e estavam eles desmatados. 

Lutzenberger então deu início a uma recuperação da paisagem anterior à ocupação, reconstituindo e imitando paisagens litorâneas, aproveitando os dotes naturais e também criando outros elementos novos, como viveiro (que foi famoso), fez drenagens, taipas, lagos, protegeu banhados, limpeza absoluta, tratamento de lixo, retirada dos invasores (infelizmente os posseiros permaneceram), melhoramentos em todos os recantos, etc. Só não conseguiu transformar o local em paraíso porque, abruptamente, em junho ou julho de 1977, foi demitido do trabalho.

Como Lutzenberger era terceirista, admitiu na época muitos empregados, dos quais alguns permaneceram até este ano, e tendo sido educados no respeito ao turismo ecológico, foram eles que garantiram a permanência dos elementos paisagísticos criados por Lutz.

Os elementos introduzidos por Lutz eram completamente diferentes dos costumeiros, que qualquer prefeito de cidade turística costuma fazer, como espelhinhos d´água, florzinhas, muros, bancos, árvores exóticas, holofotes, caiação das árvores, calçadões e outros enfeites. As obras do Lutzenberger foram de preservação, combinadas com expressões turísticas, para serem permanentes e cada vez mais lindas.

Em conseqüência, em fotos, a cidade começou a ser mostrada, quando através de cartões postais, fotos jornalísticas ou em qualquer notícia, em folhetos turísticos, quase sempre através das obras de Lutz. Entretanto, a falta de cuidados e o abandono recentes, começou a prejudicar a paisagem.

As entidades ecológicas, em fevereiro de 1996, manifestaram-se por escrito, procurando diálogo com o digníssimo Secretário de Turismo, o qual não nos deu importância e recusou-nos a nos receber. 

Já que havia a declarada vontade da Secretaria de Turismo de se livrar do Parque, chegamos a sugerir que ele fosse entregue ao Departamento dos Recursos Naturais Renováveis da Secretaria da Agricultura, que tem estrutura suficiente para gerí-lo, conforme ofício da PANGEA. 

A Prefeitura de Torres tem a tradição de tratar mal suas praças e arborização, podando as árvores e pintando-as de branco, estragando tudo, deixando o lixo predominar nas ruas - várias vezes maltratou as dunas da Praia Grande e da Praia da Cal; pretende alargar o calçadão em mais 40m, através de projetos de Lei tentou liberar a verticalização da cidade, liberando a altura dos edifícios.

A Lagoa do Violão, uma área natural que possuía centenas de animais, principalmente jaçanãs, galinholas, marrecas piadeiras, comorões, mais nútrias e muitos outros, perdeu tudo pela mão da Prefeitura, que "urbanizou" a Lagoa, demolindo o que era natural, expulsando todos os animais, para introduzir uma paisagem tecnocrática, distanciando ainda mais as pessoas da natureza, e colocando pedalinhos para passeios. A Lagoa está já ficando cercada de edifícios.

O Parque, para sua construção, exigiu soma considerável de recursos públicos, financeiros e humanos. Ali deixaram a marca de sua visão, entusiasmo e talento, entre outros, o engenheiro Euclides Triches, economista Edson Batista Chaves, jornalista Roberto Eduardo Xavier, paisagista Burle Marx, arquitetos e urbanistas Carlos M. Fayet, Milton Mattos, David Bonder e Montserrat, mais Carlos de Noronha Feyo. 

Entretanto, isso não pode acontecer com o Parque da Guarita porque ele protege os últimos restos da natureza e está situado em um extremo, com morros quase indestrutíveis, na beira do mar.

Mesmo com todas estas "credenciais", mais a falta de técnicos que saibam interpretar as paisagens tão admiradas por Balduíno Rambo, a Prefeitura recebeu "cessão de uso" do Estado o mais bonito parque entre os de área pequena (30ha), de todo o Brasil.

O autor é Presidente da PANGEA - Associação Ambientalista. Contato: Fone (051) 3224-7014






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