AgirAzul Revista 1992-1998

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AgirAzul 4

Avaliação do ano 1992 – Chamamento à atuação conseqüente

1992: Retrocesso, farsa e covardia

José Truda Palazzo Júnior, presidente IWC Brasil

MERDA. Com todas as letras e o fedor inerente, esta é a coisa que melhor simboliza 1992 em termos ambientais para o Brasil. Foi o ano em que a destruição avançou como nunca, o governo acabou e as ONGs fugiram da briga, senão vejamos:

A conferência do Rio

Com a cumplicidade vergonhosa do dito “movimento”, que agora prefere chamar-se “ONGs”, o governo brasileiro, a ONU e a perua mentirosa Gro Brundtlandt (defensora da matança de baleias na Noruega, “Madame Ecológica” no Rio) conseguiram montar a maior farsa da História em termos ambientais. Faturaram alto os políticos corruptos e mentirosos do mundo inteiro, enquanto as ONGs ambientalistas eram anuladas e diluídas num circo de debilóides chamado de Fórum Global, que só produziu lixo plástico e besteira. Quem duvida, pergunte aos ambientalistas que trabalham de fato pela Natureza no interior do Brasil se alguma ajuda prática chegou até eles! Nada! Só progrediu em 1992 a masturbação mental dos ecologistas políticos.

O pior retrocesso: o desenvolvimento sustentável

O desvario do desgoverno

Apoiada na bagunça que foi o Fórum Global e sua longuíssima preparação, que logrou abafar qualquer protesto ou raciocínio lúcido das ONGs verdadeiramente ambientalistas, a quadrilha da bruxa Brundtlandt e os políticos-governantes cúmplices da Conferência do Rio conseguiram sacramentar em 92 a não-ideologia do “Desenvolvimento Sustentável”, que prefiro denominar da “Doutrina Gilberto Mestrinho” para enquadrá-la melhor ética e filosoficamente. Os dois pilares dessa peça de propaganda bastarda e criminosa são o antropocentrismo (a Natureza só existe para servir ao homem e apenas para isso deve ser “manejada”) e o consumismo materialista (é lícito, desejável e mesmo obrigatório explorar, matar, queimar, comer e vender todas as criaturas vivas, ecossistemas e recursos naturais, sem quaisquer considerações éticas ou morais, desde que algum cientista afirme – estatisticamente, não precisa provar na prática – que esses abusos são “sustentáveis” a longo prazo). Os “ecologistas sociais”, eles próprios antropocêntricos escarrados, estão adorando. Governantes safados e depredadores, da Amazônia à Malásia, também estão radiantes...

Após o insucesso da gestão Lutzenberger na SEMAM, o “movimento” ficou tetraplégico: ouviu sem reagir o tecnocrata Goldemberg insultar e desconsiderar os ambientalistas no CONAMA; nada fez contra a inação do ignorante diplomata-tampão Flávio Perri; e, pior: os “ativistas” que festejaram a exoneração de Lutz calaram-se escandalosamente quando um lobista de madeireiros e exportadores de mogno foi nomeado Ministro do Meio Ambiente. Coutinho Jorge acabou de desmantelar a estrutura federal de defesa ambiental, imobilizando a fiscalização do IBAMA, apoiado nisto por funcionários relapsos e irresponsáveis do próprio órgão que não querem saber de trabalho prático. No meio disto tudo, os órgãos estaduais irresponsáveis e politiqueiros é que ficam com o rescaldo: as verbas “ambientais” que nunca resultam em ação efetiva.

O “movimento”

Uma farsa que nunca existiu. A mentira montada para a Conferência do Rio rezava que haviam “movimentos sociais organizados” para defender a Natureza no Brasil. É pura conversa. Do lado ambientalista, afora as entidades profissionais (e sem coragem para afrontar as “otoridades”), só existiram (e existem) pequenos grupos ou indivíduos isolados que, felizmente, fazem uma bruta diferença com seu trabalho-formiga. Do outro lado, dúzias de amontoados de aproveitadores, de sindicatos a religiões, que tentaram faturar politicamente em cima dos temas ambientais em 1992. Por sorte, faturaram pouco e já se mandaram, para desespero dos inúteis “ecologistas políticos” que perderam assim aliados para suas teses mofadas e reuniões infrutíferas. As “Federações” e “Foros” continuam inoperantes, e quem carrega o piano são os Carneiros e Franks da vida. Graças, repito, aos indivíduos ambientalistas é que 92 não foi um desastre maior.

A melhor notícia de 1992

Foi sem dúvida a eleição de Bill Clinton e Al Gore para Presidente e Vice dos Estados Unidos. Porque, felizmente, ainda somos uma republiqueta de bananas a reboque das decisões do Primeiro Mundo. Coutinho Jorge e seus madeireiros podem mandar no Pará e no IBAMA, mas se desmancham à mais leve pressão norte-americana. Portanto, em 1993, viva o imperialismo! Além do Brasil, outros países de safados vão passar o diabo...

Como um P.S. devo dizer que antevejo já a “ira santa” do “movimento” contra minhas considerações supra. E, como de costume, estou me lixando. Quem não gostar que deixe de conversa fiada e vá trabalhar. E que a merda que foi 92 sirva, pelo menos, para adubar a luta em 1993.






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