AgirAzul Revista 1992-1998

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AgirAzul 6

Bibliografia Internacional de Meio Ambiente

Por que ler e como obter as publicações estrangeiras mais importantes

Por José Truda Palazzo Jr, IWC BRASIL

Já há algum tempo, nas minhas horas de reflexão ao entardecer, venho tentando uma explicação para o caos e a ineficiência que se instalaram na maioria das entidades que se dizem ambientalistas no Brasil. 

Os “fóruns” que proliferaram depois na malfadada e nefasta ECO-92 pululam de gente que não tem a menor noção do que seja um ecossistema, não entende pra que serve um Parque Nacional, acha que baleia é peixe e não sabe diferenciar espécie nativa de exótica. Ora, sem saber sequer alguns elementos básicos do conhecimento ecológico, como é que essa gente tem a pretensão de querer influenciar as políticas para a proteção ambiental no Brasil? Só com conversa fiada sobre “mudar o sistema”?

Pois foi recordando os tempos em que a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN ainda era forte, que me lembrei da causa dessa força e de muitas vitórias que obtivemos com isso: o fator Carneiro.

Augusto Carneiro, conhecido e veterano livreiro-ambulante ambientalista, foi fundador dirigente da AGAPAN nos anos áureos desta, que acabaram quando ele e seu grupo foram virtualmente expelidos da entidade pelos “teóricos politizados”, em 1984 (daí pra diante a entidade se esborrachou, não obstante o esforço de uns poucos sobreviventes – mas o nosso tema aqui não é este). Carneiro, encarregado de receber e orientar estudantes e simpatizantes interessados em apoiar o ambientalismo, usava um “teste de seleção” infalível: tirava da pasta uma meia dúzia de livros ecológicos e instava o “candidato a militante” a comprar, a preço de custo, pelo menos um. Se a criatura não se interessava, Carneiro despachava imediatamente. 

E assim ele continua fazendo até hoje, em entidades que valorizam adequadamente sua experiência e conhecimento (a PANGEA e a IWC/Brasil, entre outras).

Trocando em miúdos, o fator Carneiro postula uma verdade até agora irrefutável: ninguém consegue ser um bom militante ambientalista sendo ignorante. E ignorante no pior sentido: o de ignorar as informações, os fatos, o desenrolar dos acontecimentos.

E, assim como é lógico que ninguém nasce sabendo, ninguém sai da ignorância sem LER – e muito, completando a vivência de campo na Natureza com o acúmulo de informações vitais existentes na bibliografia. 

O que se publica no Brasil, infelizmente, não chega para suprir a crescente necessidade de informações na área ambiental. Nosso pseudo-país, que cada vez mais é arrastado por suas elites burras e emburrecedoras em direção à Idade Média, não consegue acompanhar os avanços no conhecimento ecológico e no desenvolvimento da ética ambiental; é indispensável lançarmos mão da literatura estrangeira. Como a língua planetária hoje não é o Esperanto, mas o Inglês, conviria que ao menos um dirigente em cada ONG brasileira pudesse ler esse idioma corretamente para transmitir o conhecimento a seus companheiros.

O ambientalista brasileiro, muito mais que o de outros países, se defronta entretanto com uma dificuldade seríssima para aperfeiçoar sua militância: a pobreza mental de nossas grandes livrarias, que preferem importar livros sobre assuntos fúteis ou supérfluos (tapeçarias do Afeganistão, Louças inglesas do século XVII ou fotos do Elvis, por exemplo) do que trazer bons títulos de meio ambiente, e o preço extorsivo que essas máfias do livro importado cobram para intermediar a aquisição do livro desejado. 

Some-se a tudo isto a dificuldade de se conhecer novos lançamentos a nível mundial, e o militante brasileiro pareceria estar mesmo ralado e fadado a continuar na ignorância que hoje empesteia e imobiliza muitas das nossas ONGs.

Só que há um jeito de furarmos esse bloqueio obscurantista: basta encomendar diretamente os livros, a preços do mercado internacional, a uma empresa especializada em livros sobre temas ambientais. Há várias delas nos Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra, principalmente.

Possivelmente hoje a maior e melhor destas empresas é a  Natural History Book Service britânico, que publica periodicamente dois catálogos: um de História Natural (com muitíssimos tópicos de interesse) e um especificamente sobre Ecologia e Meio Ambiente, que traz desde livros de ciências ambientais até teorias e filosofia da militância ambientalista, listando títulos publicados no mundo inteiro. A empresa envia gratuitamente estes catálogos às entidades e pessoas interessadas, bastando escrever para: NHBS, 2-3 Wills Road, Totnes, Devon TQ9 5XN, United Kingdom.

Como fazer essa aquisição pelo Correio? Simples! Basta calcular o valor total da compra (preço dos livros mais envio) e ir a uma agência postal qualquer, solicitando a remessa de uma vale postal internacional neste valor, a favor da empresa fornecedora.

São milhares de publicações que ficam dessa maneira ao nosso alcance, e que podem nos auxiliar de forma inestimável na defesa da Natureza, pela disseminação e aplicação dos conhecimentos nelas contidos. Apenas uma das obras mais recentes pode dar idéia da importância de se conhecer literatura: Global Biodiversity: Status of the Earth´s Living Resources (Biodiversidade Global: Status dos Recursos Vivos da Terra), publicado pelo World Conservations Monitoring Center, 1992.

Trata-se de um compêndio que caracteriza e avalia a diversidade biológica do nosso planeta, seus distintos centros geográficos mais importantes, a sua destruição acelerada e prioridades para sua conservação. Seu preço atual incluindo frete para Brasil é US$ 59,73, nenhum absurdo se comparado com os preços de romances ridículos editados em nosso país.

Como esta, há numerosas outras obras de enorme valia. É fundamental que ao menos conheçamos sua existência e as informações que nela contêm, e que podem nos faltar na hora de analisar um Relatório de Impacto Ambiental, propor uma nova reserva natural, organizar um curso ou enfrentar um político demagogo (e há os que não são?).

Quem não acha que esse conhecimento é necessário, por outro lado, que continue no estágio pré-Mobral da militância ignorante com meus sentidos pêsames.






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