AgirAzul Revista 1992-1998

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AgirAzul 6

Pecuaristas ainda usam fogo – O Rio Grande queima

Quem mora em cidades e pensa que o problema de queimadas limita-se à Amazônia, está redondamente enganado. No Rio Grande do Sul, nos meses de julho/agosto/setembro, principalmente, pratica-se a queima de campo como técnica de manejo de pastagens.

Foi lançada em julho de 1993 a Campanha Contra as Queimadas, um conjunto de atividades desenvolvidas pela ADFG–Amigos da Terra e pela ASSECAN – Associação Ecológica Canela que visa acabar com as queimadas em campos no Estado do Rio Grande do Sul.

A campanha conta com o apoio da Brigada Militar, do Ministério Público e das entidades filiadas à APEDEMA - Assembléia Permanente das Entidades de Defesa do Meio Ambiente do RS, na sua divulgação. A Campanha Contra Queimadas visa conscientizar sobre os efeitos negativos das queimas em todo o Estado, sendo que a área prioritária de ação é a região dos Campos de Cima da Serra.

Embora utilizadas como prática comum entre agricultores e pecuaristas, as queimadas são um grave problema ambiental no Estado, A falta de esclarecimento quanto a proibição de sua utilização e de uma fiscalização efetiva, aliadas às técnicas rudimentares de manejo dos recursos naturais, vêm permitindo que tal prática seja utilizada de forma indiscriminada, trazendo prejuízos não apenas ambientais mas também de produtividade.

Dentre os malefícios causados pela utilização das queimadas em relação ao solo pode-se citar alguns, como a destruição da camada fértil e dos microorganismos que ajudam a recompor sua fertilidade, a erosão, a compactação com conseqüente perda de capacidade de absorção da água e por fim a desertificação, hoje comum em alguns pontos do nosso Estado. Em relação à fauna nativa, a destruição pelo fogo de seus habitats pela utilização das queimadas tem sido apontada como a maior responsável pelo desaparecimento de grande número de espécies e colocação de outro grande número em vias de extinção, principalmente pela fragilidade dos ecossistemas que compõem a paisagem das regiões abrangidas pelo projeto. O mesmo pode-se dizer em relação à flora nativa, exposta aos incêndios ocasionados por queimadas descontroladas. Além disso, a ciência aponta as queimadas como grande gerador de gases de efeito estufa.

Até o momento, nenhuma grande campanha foi realizada visando mostrar essa triste realidade e ampliar a cultura de agricultores e pecuaristas numa proposição de alternativas racionais de uso de seus recursos naturais. As iniciativas a nível nacional restringem-se a alguns poucos cartazes e são direcionadas para a Amazônia.

A Campanha teve o seu lançamento em campo oficial no dia 31 de agosto, em Canela: a população foi alertada para os malefícios da queimada através de folhetos inicialmente multiplicados pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa e, a partir de 20 e agosto, doados pela Companhia de Energia Elétrica do Estado.

Numa segunda etapa foi realizada, por iniciativa da ADFG-Amigos da Terra, uma fiscalização na área prioritária que contou com duas equipes da Brigada Militar e de seu motoplanador para atividades de apoio. As atividades de fiscalização foram realizadas de 19 a 22 de agosto e tiveram a coordenação de Káthia Vasconcellos Monteiro e Helena Leister, da ADFG-AT. 

esta primeira atividade foram autuados mais de 20 proprietários que tocaram fogo em seus campos, sendo vários deles dentro das áreas do Parque Nacional dos Aparados da Serra e da Serra Geral. Não foram multados. Apenas foram expedidos autos de constatação de degradação ambiental que deverão dar início a processo administrativo, civil ou penal através do Ministério Público do Estado. Na ocasião os membros da ADFG-AT visitaram uma propriedade, próxima a Canela, onde se faz manejos das pastagens sem o uso de fogo e o resultado obtido é excelente. O Sr. Helmut, proprietário destas terras, colocou e propriedade a disposição para visitas e comprometeu-se a repassar informações para os interessados. Conseguiu-se que a imprensa acompanhasse um dia de trabalho, e o resultado foi uma matéria de uma pagina na Zero Hora (dia 23.08). A partir desta reportagem a Campanha Contra Queimadas tomou outros rumos. Aconteceu já no dia 26.08 a tão protelada reunião na Comissão de Agricultura. Por incrível que pareça o representante do Departamento de Recursos Naturais Renováveis da Secretaria da Agricultura foi o único presente que, de certa forma, defendeu o uso das queimadas como manejo de campo.


 No dia 10 de setembro a Comissão de Saúde e Meio Ambiente e a Comissão de Agricultura realizaram uma reunião em Cambará do Sul para a apresentação de alternativas de manejo àquela comunidade. Na ocasião estiveram presentes dois prefeitos e seis vice-prefeitos da região além de vereadores, sindicatos rurais e pecuaristas além da representante da ADFG-Amigos da Terra, Káthia Monteiro.


Na ocasião, a comunidade afirmou ser difícil aplicar algum manejo na área de campo, até porque não se dispõe de recursos para tanto. O prof. Aino Jaques, da UFRGS, que não queima o campo da sua propriedade há mais de 20 anos, apresentou algumas alternativas. Na verdade, constatou-se claramente a falta de vontade em mudar o atual quadro de queima de campo naquela região.


 O agrônomo Darci Bergmann – da Associação Sãoborjense de Proteção ao Ambiente Natural – ASPAN – diz que em São Borja um proprietário faz a “roçada” nas suas terras dobrando o número de cabeças de gado, na mesma área, em quatro anos.


 A ASSECAN e a ADFG-Amigos da Terra estão preparando atividades pensando já no próximo ano.


Interessados no material de divulgação da Campanha devem entrar em contato com a APEDEMA/RS. Outras entidades como a PANGEA – Associação Ambientalista Internacional (Porto Alegre) e a UPPAN – União Pedritense de Proteção ao Ambiente Natural (Dom Pedrito) já se integraram na campanha.


Contatos: ADFG-Amigos da Terra (R. Cabral, 151/02 – 90420-120 – Porto Alegre/RS – (telefone/fax nº (051) 332-8884 e a ASSECAN (Caixa Postal 29 – 95680-000 – Canela/RS)


Texto da Redação do AgirAzul (JBSA)






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