AgirAzul Revista 1992-1998

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AgirAzul 7

Biodiversidade

Sementes da Mudança

Por Humberto Mafra via Conferência no Alternex

São Francisco da Califórnia - Realizou-se em São Francisco, entre os dias 15 e 17 de Outubro, a Conferência  “Sementes da Mudança - Bioneiros e Bioremediação”, sobre experiências de regeneração ecológica e o uso de técnicas vivas (biológicas) como forma de restauração do meio ambiente degradado. O nome Seeds os Change vem da empresa que se dedica a recolher, preservar e distribuir sementes autenticamente orgânicas de plantas comestíveis em processo de rápido desaparecimento. Mas reflete também a visão de um grupo de ativistas e organizações que se reúnem anualmente para discutir temas e problemas ecológicos e as respectivas soluções, usando tecnologias apropriadas. 

Foram discutidos o tratamento de águas, esgotos e substâncias tóxicas lançadas em rios e cursos d'água, o uso de várias técnicas relativamente baratas para o tratamento e regeneração de recursos hídricos, o uso de brejos e pântanos artificiais como estações ecológicas de tratamento, proteção da biodiversidade, áreas de lazer, restauração urbana e proteção da saúde pública.

Foi retomada a questão da utilização de dejetos humanos como fertilizantes e formas alternativas de tratamento do mesmo, inclusive em casa, isto é, na fonte - ao invés de redes extensas (e caras) canalizando todo aquele material para os rios, destruindo-os, e causando a perda de sua riqueza orgânica. É necessário considerar estes e outros dejetos orgânicos como recursos e não como problemas.

Soluções baratas ou tecnologicamente simples são inadmissíveis, porque não beneficiam uma horda de advogados burocratas do governo e executivos de grandes corporações que passaram a viver do problema, não contribuindo com sua resolução. O meio ambiente para esses setores é uma nova fronteira econômica, depois do fim da guerra fria. Então, soluções simples e imediatas precisam ser abafadas ou desacreditadas como estão sendo em Washington, sem falar na completa inexistência de apoio a esse tipo de pesquisa.

Essas não são denúncias vazias ou panfletárias contra o sistema capitalista.

 Também discutiu-se plantas e experiências práticas de preservação da biodiversidade. Não pude acompanhar as discussões devido a compromissos, mas segundo participantes, foram tão interessantes quanto os temas anteriores.

Por último, discutiu-se plantas mensageiras: será possível o uso de plantas alucinógenas, ou psicodélicas, como o cogumelo, a ayahuasca e outras, para comunicação do mundo vegetal com os seres humanos? Afinal, o que temos em comum com essas plantas que permitem a elas desencadearem processos em nossa consciência? Seria talvez uma forma de comunicação de Gaia com os seres humanos, ressurgindo agora nesse período atribulado de sua história? Isso é muito especulativo para mim nesse ponto, mas tem gente acreditando que sim.

Uma das mais brilhantes palestras foi ministrada por Terence MacKenna e ele acredita que a restauração dos nossos laços com o mundo natural só vai ocorrer quando reaprendermos a utilizar estas plantas mensageiras para os objetivos superiores de evolução da consciência e do nosso lugar apropriado na sintonia do mundo natural. A ecologia está flertando com o xamanismo, em busca de mapas e ecossistemas interiores.

Em 1994, a conferência Sementes da Mudança se realizará mais uma vez e com certeza trazendo algumas das discussões mais interessantes deste grupo de ecologistas verdadeiramente ponta de lança. Como sonhar não é crime, talvez um dia poderemos trazer alguns desses conferencistas para animar uma sessão do ENEA - Encontro nacional das Entidades Ambientalistas Autônomas. O problema é saber se o ENEA teria condições de abrir um espaço para eles em sua agenda.






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