AgirAzul Revista 1992-1998

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AgirAzul 7

O trabalho da SMAM – Queimadas em Porto Alegre

Por Luiz Felippe Kunz Júnior

Muitas vezes temos nossa atenção voltada para o problema das queimadas, na Amazônia, no Pantanal, na Mata Atlântica, e não nos damos conta do que acontece em nosso próprio município, ao alcance de nossos olhos.

Em Porto Alegre, não há época determinada para as queimadas, nem motivo econômico que as justifiquem. Queima-se a vegetação a qualquer tempo, seja no auge do verão, em alguma estiagem do inverno, no outono, na primavera, pela manhã, tarde e noite, com uma irracionalidade que assusta.

Tendo passado por uma experiência de um ano e meio na coordenação de ambiente natural da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, constantemente deparávamo-nos com queimadas nas encostas e topos dos morros e ficávamos atrás de uma justificativa razoável para o ocorrido. Não encontramos. 

Os morros de Porto Alegre não são utilizados para a agricultura, em função de seu solo pobre, raso e pedregoso. Tampouco o são para a pecuária, pois são pouquíssimas as cabeças de gado que se encontram, em função da alta probabilidade de roubo de gado. Também não apresentam atalhos de uma região para outra da cidade em função de sua topografia acidentada. 

Qual então a razão das queimadas? Em função da experiência adquirida acreditamos que são causadas por puro vandalismo ou piromania, tese há muito defendida por Augusto Carneiro no movimento ecológico.

Esta freqüência impressionante de queimadas motiva acontecimentos dramáticos em nossa cidade:

– Em 1991, em função dos danos causados pelas queimadas, o Ministério Público ingressou com uma ação pedindo a retirada dos ocupantes da área funcional com potencial de reserva ecológica do Morro da Polícia, que tem milhares de moradores, muitos vivendo há muitos anos no local. Este fato determinou o engavetamento das lideranças comunitárias e de ponderáveis parcelas daquelas comunidades na defesa ambiental, como forma de demonstrar ao Ministério Público que eram vítimas da situação social do país e que a grande maioria dos moradores zelava pelo patrimônio ambiental que os cercava.

Na metade deste ano, membros da Associação Comunitária Menina Alvina 2, do Partenon, localizaram incendiários colocando fogo na face norte do Morro da Polícia. Os incendiários estavam armados e quando foram impedidos de continuar a queimada, houve discussão e troca de tiros, culminando com a morte de um dos causadores da queimada.

Os fatos acima relatados servem para demonstrar o grau de importância dos incêndios nos morros de nossa cidade, responsáveis em grande parte pela perda da cobertura vegetal, erosão e assoreamento dos arroios e redes pluviais.

Campanhas de educação como a realizada no ano de 1992 com o cartaz "Queimada dá em Nada", distribuído nas regiões próximas aos morros e um trabalho eficaz de fiscalização integrado pela Prefeitura através da SMAM – Secretaria Municipal do Meio Ambiente - e da Brigada Militar devem ser retomados e reforçados para que se possa diminuir a incidência deste grave problema ambiental em Porto Alegre e punir os responsáveis.






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