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II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental

Educação para o Desenvolvimento Sustentável é alvo de críticas na Univali

Especial para a EcoAgência - 10 dez 2003

Itajaí, SC - Durante a reunião de elaboração da Carta de Itajaí, Edgar Gonzáles Gaudiano criticou a proposta da Unesco de fomentar a educação para a sustentabilidade, afirmando que na América Latina e Caribe a difusão desse conceito oferece riscos ao trabalho desenvolvido nos últimos 20 anos por diversas entidades não-governamentais e governos.

Edgar Gonzáles, professor da Universidade Nacional Autônoma do México, proferiu a conferência de abertura do II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental, no domingo, e vem acompanhando todas as discussões feitas pelas redes de educadores presentes no encontro. Em entrevista exclusiva para a EcoAgência, ele explicou que a história da educação ambiental na América Latina está intimamente ligada com as lutas por justiça social, além de ser mais característica de movimentos sociais e entidades ambientalistas do que propriamente de governos. Segundo ele, a inserção da temática no ensino formal, tal como acontece no Brasil, acontece apenas no México, Costa Rica e Colômbia, sendo o caso brasileiro um dos mais organizados. "Brasil e Colômbia avançaram na inclusão da EA na sala de aula, mas de resto, ela tem sido vinculada a processos sociais."

Para o professor mexicano, a intenção da Unesco de promover a Década da Educação Sustentável a partir de janeiro de 2005 é perigosa para a experiência latinoamericana. Desde a Conferência da Rio-92 a entidade vem trabalhando com o conceito de educação para o desenvolvimento sustentável, posição fortalecida na Conferência de Joannesburgo, no ano passado. Segundo Gonzáles, esse conceito está ligado a realidade e às necessidades dos países europeus, Estados Unidos e Canadá, onde essa educação possui um caráter voltado para o aprendizado de temas de ecologia, ciências e conservação da natureza. Ele afirma que, no entendimento daquele escritório, a educação para o desenvolvimento sustentável é um estágio superior da educação ambiental.

"As sociedades latinoamericanas levaram vinte anos para consolidar a educação que temos hoje, de caráter mais social e político", diz Edgar Gonzáles. Ele teme que a proposta de fomento da Unesco, que engloba outros temas como educação para a paz, questões de gênero e violência, acabe fazendo com que se perca o capital político dessas duas últimas décadas. "Estaríamos lidando com temas de apelo social muito mais urgente, e a educação ambiental poderia acabar ficando de lado".

O conceito de desenvolvimento sustentável é muito opaco teoricamente, e ainda mais operacionalmente. Gonzáles aponta que não há um país que se diga sustentavelmente desenvolvido, e pode-se começar uma educação que não se sabe exatamente o que é, do ponto de vista teórico. Ele considera que a Unesco possui um enfoque muito instrumental, e essa outra educação estaria fatalmene vinculada a atividades de conservação, preservação da flora e fauna e aprendizado de ciências, "podemos receber um know how que não corresponde a nossas necessidades, cheios de manuais e cartilhas. Isso não funciona para nós".

Até mesmo a alfabetização ecológica, de Frijof Capra, é alvo de crítica do professor. Para ele, precisamos de uma alfabetização ambiental, e não apenas ecológica, à margem dos problemas sociais. Ele sugere que o Brasil exerça pressão sobre os demais países latinoamericanos e caribenhos, levando até o Fórum de Ministros da Educação sua experiência com a inclusão da ecucação ambiental como tema transversal nas escolas, num movimento de preservação da tradição desses países.

Sobre a experiência de organização em redes de educadores, Edgar Gonzáles diz que apenas Brasil e México estão desenvolvendo esperiências. Em seu país, além da Academia Nacional de Educação Ambiental, da qual é presidente, existem redes locais de educadores ambientais, além de consórcios de universidades trabalhando agendas ambientais.

Edgar Gonzáles Gaudiano é professor da Universidade Nacional Autônima do México, presidente da Academia Nacional de Educação Ambiental (ANEA) e presidente do Conselhor de Educação e Comunicação da Organização Regional de Mesoamerica (ORMA) da UICN.

Mais informações:

Texto de Gisele Neuls - gisele@ecoagencia.com.br para a EcoAgência de Notícias - www.ecoagencia.com.br


Última atualização: 29 outubro, 2013 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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