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FSM - Os expulsos da terra

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Espoliados ou escravizados pelas corporações de agroindústria, hotelaria ou minenadoras, trabalhadores do campo querem retomar direitos

Mumbai, Índia - Antepassados da tailandesa Kingcorn sempre tiveram uma relação direta e natural com as terras do campo e da floresta em seu país. Sem escrituras e organizadas em regime comunal, as terras pertenciam aos que nela viviam. Nos anos 70, com a chegada dos programas do Banco Mundial de titulação de propriedades, tudo mudou.

Não é preciso grande imaginação para compreender que muitos títulos nunca chegaram a quem pertenciam de direito, e muitos dos que chegaram migraram depois para outras mãos. Comerciantes da cidade, corporações da agroindústria e do turismo agiram rápido e logo tiveram os camponeses sob seu controle.

“Antes tínhamos terra e não tínhamos título. Depois tínhamos título e não tínhamos terra”, contou Kingcorn, no IV Fórum Social Mundial (FSM), em Mumbai. Ela veio relatar uma virada importante na atitude dos camponeses expulsos ou explorados e que foi provocada pela troca de experiências no processo do FSM, durante o último ano.

Em 2003, uma delegação tailandesa participou do III FSM em Porto Alegre, onde manteve contatos com o Movimento dos Sem Terra (MST) brasileiro. Um mês após visitarem acampamentos e ocupações, em fevereiro de 2003, nascia o Movimento dos Sem Terra da Tailândia.

Em Mumbai, Kingcorn ouviu histórias parecidas, de gente como os camponeses da Indonésia, forçados a migrar de uma ilha para outra por um programa articulado entre governo e grandes empresas de monoculturas.

Indra Urbes, da Via Campesina e representante da Federação dos camponeses da Indonésia, relata essa viagem até agora sem volta que inúmeras famílias estão fazendo rumo a uma vida de semi-escravidão. Para possibilitar as grandes monoculturas de borracha, coco e dendê, empresas estrangeiras se apossam de pequenas ilhas – são centenas de pequenas ilhas no país. Praticamente desabitadas, elas demandam mão de obra no campo. O governo promete moradia e condições de vida para trabalhadores que concordem em abandonar suas comunidades e pequenas produções, se aventurando a mudar de uma ilha para outra atrás dos empregos no campo oferecidos pelas empresas. O novo lar dessas famílias não passa do mínimo para que sirvam aos novos patrões. Tudo que tinham, de vida em comunidade e vínculos com as terras onde nasceram, fica para trás.

Os indianos, porém, não tinham menos problemas a expor. Com uma das maiores populações mundiais para alimentar, e terras disputadas por corporações – seja da agroindústria, sejam as mineradoras – a Índia vai se tornando um celeiro de miseráveis no campo e nas cidades. É um terreno fértil para que as grandes empresas determinem as condições de trabalho das famílias que vivem da agricultura.

“Os motivos são diferentes, mas a perda do direito à terra é generalizada em lugares de interesse do grande capital”, diz a brasileira Mônica Martins, ativista da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos e mediadora do seminário que reuniu representantes da Índia, África do Sul, Indonésia, Tailândia, Brasil e Cuba.

As pressões políticas vêm principalmente das instituições como Banco Mundial e FMI, que impõem mudanças na legislação: “no Brasil mudam a lei da água, na Tailândia, a lei da terra, e, na Índia, as leis das florestas para permitir que as corporações explorem esses recursos”. Uma das mais terríveis, diz Mônica, é a pressão cultural que resulta de tudo isso. “Camponeses que mantém com a natureza uma relação de cooperação são obrigados a submeter-se a um processo de devastação e consumir produtos industrializados”.

Cuba participou do seminário de forma mais orgulhosa. Catherine Murphy, uma norte-americana que foi à ilha para estudar e de lá nunca mais saiu, explicou que depois do colapso soviético Cuba vem investindo em programas de diversificação da agricultura e demonstrando enorme criatividade para vencer a fome. Uma das iniciativas mais corajosas foi a de apostar no desenvolvimento de uma agricultura urbana. O governo passou a fazer campanhas e garantir incentivos e programas de crédito para as famílias que utilizem terrenos urbanos, quintais e jardins – e até vasinhos dentro de casa – para produzir alimentos. Hoje, diz Murphy, Cuba apresenta a maior agricultura urbana do mundo.

O que fazer juntos

O seminário mediado por Mônica Martins foi apenas uma entre as muitas atividades do Fórum para debater o direito à terra, e deixou uma mostra da disposição dos trabalhadores rurais em traçar estratégias comuns. Os indianos, por exemplo, querem que o subsolo – objeto de cobiça das empresas mineradoras na Índia - também seja considerado nas lutas pelo direito à terra, assim como são as águas e as florestas.

Um irlandês que assistia ao seminário pediu a palavra para contar como a luta pela terra foi grande inspiradora do processo revolucionário para libertar o país dos ingleses. Hoje, ele explica que, apesar de estarem na Europa, o conflito entre camponeses e as corporações da agroindústria são muito parecidos com os do Sul do Planeta.

Joseph Olé Simel, do Quênia, acredita que é possível e necessário globalizar as respostas dos trabalhadores do campo, com estratégias comuns de respeito a diversidade das culturas e da natureza, de acesso e controle dos recursos pelas comunidades e questionamento permanente das políticas impostas no campo. “A pior forma de colonização é quando as mentes são colonizadas. Quando aceitamos sem questionar”, protestou da platéia.

A filipina Mary Ann, da LRAN, defende o caminho das ocupações como política de ação direta para os movimentos camponeses do mundo todo. Ela propõe o monitoramento de todas as instituições financeiras internacionais, que mudam de estratégia muito rapidamente. Junto com isso, acha que é preciso valorizar tremendamente os meios de comunicação e informação entre os movimentos. Sofia Monsalve, da Fian, acha que é hora de retormar a proposta de uma campanha mundial pela reforma agrária, proposta há dois anos, em conjunto com a Via Campesina, mas que ainda não deslanchou.

Por Rita Freire - Planeta Porto Alegre.Net


Última atualização: 04 maio, 2014 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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