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REGIONAL

Produtividade da soja transgênica pode cair nesta safra - a quantidade de herbicidas aplicada não diminuiu

10 mar 2004 - Especial para a EcoAgência de Notícias

Porto Alegre, RS - A estiagem porque passa o Rio Grande do Sul deve afetar a produção de soja gaúcha da safra 2003/2004, apontou o Leonardo Melgarejo em palestra na Terça Ecológica realizada nesta terça-feira, 9/3, em Porto Alegre. Para o engenheiro agrônomo e assessor da Via Campesina, este é mais um indício que desmonta a tese de que a soja geneticamente modificada Round up Ready é mais produtiva que as sementes convencionais.

Já no ano passado, Melgarejo pesquisou as condições que favoreceram a supersafra do grão e apontou que a quantidade de chuvas foi a grande responsável pelo rendimento 25% superior ao esperado para a colheita de 2002/2003. Ele lembra que essa mesma quantidade de chuvas foi prejudicial à safra do arroz, tendo sido acima da média para o período, justamente durante a colheita e afirma que as previsões para este ano são exatamente inversas: já se anuncia uma boa colheita de arroz e uma quebra na de soja.

Em sua palestra, Leonardo Melgarejo afirmou que são necessárias mais pesquisas feitas por agência independentes para garantir a segurança para o plantio e consumo de organismos geneticamente modificados. Para ele, a polêmica da soja RR é apenas a ponta de um grande iceberg que ainda poderá trazer muitos problemas, certamente mais complexos do que aqueles apresentados pela Revolução Verde.

“Já se cometeram erros graves com tecnologias que foram liberadas e logo em seguida se mostraram prejudiciais ao ambiente e à saúde humana, como os conhecidos casos do DDT e da talidomida. Entretanto bastou encerrar o uso dessas tecnologias para observar que os efeitos foram nitidamente minimizados nas gerações seguintes. Não podemos esperar o mesmo em relação à biotecnologia porque estamos falando de vida e a vida é suficientemente dinâmica para estarmos correndo o risco de provocar danos irreparáveis” alerta.

O engenheiro agrônomo apontou também outras falácias em relação aos benefícios da utilização das sementes geneticamente modificadas disponíveis hoje no mercado. Uma delas diz respeito à utilização de herbicidas. É verdade que a soja RR plantada no estado necessita de apenas um tipo de herbicida – o glifosato – e que este possui um custo mais baixo que outros empregados comumente nas lavouras. A quantidade, porém, não diminuiu, ao contrário do que muitas pessoas imaginam. “Iniciou-se com um litro por hectare no plantio das sementes, o que é um número razoável, mas hoje os produtores já estão usando um litro no plantio, mais um litro e meio durante o brotamento e algumas vezes mais um litro antes da colheita, o que nos dá um número três vezes maior do que o imaginado” – afirma.

Além disso, apesar do glifosato possuir um grau de toxicidade menos agressivo para o agricultor durante o contato direto, o número de intoxicações por esse herbicida tem crescido bastante nos últimos dois anos. Uma das razões apontadas por Melgarejo é que os produtores não controlam rigorosamente as quantidades nas suas aplicações, já que é um agroquímico barato. Também é possível identificar pelo menos um impacto no ambiente: o favorecimento da proliferação de fungos do tipo fusários pelo glifosato. Pouco importante para as culturas de soja, esses fungos são extremamente danosos para as lavouras de milho, também plantadas no Rio Grande do Sul.

Os resultados das pesquisas podem ser conferidos no artigo do pesquisador publicado em agosto na EcoAgência -  http://www.ecoagencia.com.br/artigos/melgarejo.pdf )

Entrevista ao Sintonia da Terra

Entrevista exclusiva do Engenheiro Agrônomo e Doutor em Engenharia de Produção Leonardo Melgarejo, pode ser ouvida no Sintonia da Terra desta sexta-feira, 12 de março, às 8:05 da manhã pela Rádio da Universidade (1080 AM) ou pela Internet no site www.ufrgs.br/radio 

Texto da Jornalista Gisele Neuls - gisele@ecoagencia.com.br - Exclusivo para EcoAgência de Notícias/Sintonia da Terra