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NACIONAL

Aziz Ab’Sáber critica política do Governo Lula para a Amazônia a aponta soluções para a recuperação da floresta

10 junho 2004  - Especial para a EcoAgência de Notícias

 

Porto Alegre, RS - No primeiro ano do Governo Lula, a Amazônia brasileira perdeu uma área de aproximadamente 26 mil Km². Com isso, podemos deduzir que se a gente não tiver olho para os especuladores da região, nos próximos 10 anos perderemos 260 mil quilômetros e, em cem anos, o desmatamento chegará a 2 milhões e 600 mil Km². A advertência foi feita na noite dessa quarta-feira (9) pelo geógrafo e professor Aziz Ab’Sáber em palestra realizada na Usina do Gasômetro, durante o seminário internacional da 20ª Semana do Meio Ambiente de Porto Alegre.

O auditório Julieta Batisttioli, completamente lotado, aplaudiu de pé quando o mestre encerrou sua palestra, considerada uma verdadeira aula sobre os problemas ambientais enfrentados pelo país, principalmente a Amazônia. Também participou do evento a peruana Cecília Castro, mestre em gestão ambiental e pesquisadora do IPES – Promoção de Desenvolvimento Sustentável.

Ao discorrer sobre a situação da Amazônia, Ab’Sáber lembrou que há cinco caminhos para a devastação: a estrada, o ramal, o sub-ramal, a chamada espinha de peixe e a saltação para dentro da floresta (feita pelos grandes proprietários no coração da mata). “A primeira ocupação”, destacou, “ocorre sempre à beira dos rios, riozinhos ou igarapés. Ao poucos os devastadores vão entrando e destruindo o que encontram pela frente”. Em virtude dessa forma de desmatamento, a estrada Belém-Brasília teve, o que o professor Aziz Ab’Sáber chama de um dos “grandes rasgões da floresta”. Além disso, assegura, através de uma estrada feita para chegar ao sul do Pará, a PA-150, em menos de 13 anos, 50,5% da floresta regional desapareceu.

Amazônia Intocada?

Os problemas de devastação da Amazônia, explica ele, começaram durante os governos militares, que abriram as primeiras rodovias, sob o argumento de fazer uma integração brasileira, entre o centro-sul e o porto de Belém do Pará, na Amazônia. “Mas eles não podiam fazer previsões de impacto. Eram pessoas muito vaidosas que fizeram as construções. E, o que ocorreu depois deles, atravessou por vários outros governos, incluindo Sarney, Collor e Fernando Henrique Cardoso, que não conseguiram entender os problemas da preservação integrada da Amazônia, independentemente de um uso econômico que é desejável e que jamais foi desconsiderado pelos que conhecem a região. Só que precisa ser um eco-desenvolvimento”, assegura.

Aziz Ab’Sáber mostra-se contrariado com uma frase que ouviu do próprio presidente Lula, o qual considera seu amigo, segundo a qual, a Amazônia não pode continuar intocada. “O problema”, desafia o professor Ab’Sáber, “é saber como é que ela está sendo tocada. Quais são os caminhos de devastação? Quais são os personagens que a devastam? E como é que será o futuro das comunidades que ali vivem?. Não perceber isso, é fornecer a amazônia para os seus cobiçadores”.

Reeducação pelo conhecimento

Ao final de sua palestra, o professor apontou uma das soluções para a reversão da destruição amazônica. Entre o Acre e Rondônia, destaca, está acontecendo uma coisa revolucionária, que poderia ser estendida a grandes áreas de floresta. “Na fronteira desses dois Estados”, explica, “a comunidade, com ajuda da igreja, desenvolveu o projeto Reflorestamento Econômico Concentrado e Adensado (RECA). Inicialmente entravam pelo chão do sub-boque da floresta. Hoje, estão descobrindo que é possível entrar pelos terrenos já arrasados. Eles começaram a trabalhar pela borda da floresta, que tem luminosidade e excesso de umidade. Plantaram cupuaçu, açaí e cana de açúcar. Fizeram pequenos caminhos, cortando o sub-boques e plantando produtos que fazem parte da economia regional. Assim, utilizam o solo sem causar degradação”.

Precisamos fazer uma educação que não seja apenas para as crianças das primeiras idades do primário ou secundário, enfatiza o professor Aziz Ab’Sáber. “Necessitamos de uma educação para nós mesmos, a reeducação pelo conhecimento, que nos dará mais resistência e mais possibilidades de comunicarmos uns com os outros e termos mais idéias para políticas públicas a serem ofertadas para os governos. Acho que alguns governantes de escalão abaixo do meu amigo Lula estão tendo muitas dificuldades no foco de conhecimento. Não quero citar os nomes, mas todo mundo sabe”, concluiu ele.

Reportagem de Juarez Tosi  - juarez@ecoagencia.com.br, especial para Ecoagência Solidária de Notícias Ambientais - www.ecoagencia.com.br.


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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