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INTERNACIONAL

Via Campesina condena informe da FAO sobre biotecnologia

17 junho 2004

 

Em informe divulgado pela própria Via Campesina, a organização informa que A IV Conferência Internacional da Via Campesina expressou com firmeza sua posição de condenação e indignação frente ao informe anual da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação - FAO, por considerá-lo um apoio descarado à indústria biotecnológica, que tem nos transgênicos um de seus principais aspectos e que atenta contra a soberania alimentar dos povos, em especial dos países pobres.

A Via Campesina, o mais importante movimento mundial de camponeses e pequenos agricultores, segundo a nota, reafirmou sua posição com aprovação unânime dos participantes da IV Conferência ; a mesma que havia sido expressada através de uma carta aberta enviada ao Diretor Geral da FAO - Jacques Diouf e que recebeu o apoio de mais de 850 movimentos e organizações da sociedade civil.

O informe de nº 200, da FAO, entitulado "Biotecnologia : respondendo às necessidades dos pobres ?", elaborado sem nenhuma consulta às organizações camponesas e de pequenos agricultores, é considerado um apoio político à indústria biotecnológica e aos transgênicos, e promotor de um maior desvio de financiamentos para este tipo de pesquisas, em detrimento dos métodos saudáveis e ecológicos praticados pelos pequenos agricultores e pelos camponeses.

"Estamos profundamente decepcionados porque a FAO e você, pessoalmente, rompeu seu compromisso de consultar e manter um diálogo aberto com as organizações de agricultores de pequena escala e com a sociedade civil. Ao deixar de consultar estas estas organizações, a FAO deu às costas àqueles que são afetados de forma mais direta pelas tecnologias que o informe promove", remarca a carta aberta.

Acrescenta que ao invés de recomendar o fortalecimento do papel dos agricultores no manejo da biodiversidade agrícola e no melhoramento de culturas vitais para sua sobrevivência, o informe propõe um ajuste tecnológico de cultivos que promove o desenvolvimento transgênico da mandioca, da batata e do grão-de-bico, entre outros cultivos.

Destaca igualmente o fato de que a fome no mundo aumenta apesar do crescimento da produção global de alimentos, e que "se aprendemos algo da revolução verde é que os avanços tecnológicos em genética de cultivos para que as sementes respondam aos insumos externos andam junto com o incremento da polarização sócio-econômica, com o empobrecimento rural e urbano e com uma maior insegurança alimentar".

A FAO não parece ter aprendido nada com o fracasso da revolução verde e não entende que sua estreita visão tecnológica tem fortalecido as estruturas próprias que provocam a fome no mundo. A carta sublinha que a própria história demonstra que as mudanças estruturais no acesso a terra, à produção de alimentos e ao poder político - combinados com sólidas tecnologias ecológicas, sustentadas pela pesquisa baseada no conhecimento camponês - reduzem a fome e a pobreza. O informe de mais de 200 páginas é sumariamente tendencioso ao ignorar os impactos adversos dos cultivos transgênicos e afirmar que estes têm resultado em enorme benefício econômico para os agricultores, e que têm servido para reduzir o uso de pesticidas. Estas afirmações não obedecem a fontes científicas independentes e nem sequer a uma comparação de diferentes dados disponíveis, senão a estudos das próprias empresas biotecnológicas. Por exemplo, afirma que o algodão transgênico inseticida (Bt) obteve êxito na Índia - informação baseada em dados parciais da empresa transnacional Monsanto em 2001 ; mas não considera os dados reais da liberação de algodão transgênico em 2002 que mostra que foi um fracasso.

As vozes contárias aos transgênicos têm sido unânimes na IV Conferência. "As multinacionais querem manipular nossos cultivos para poderem controlar toda a cadeia alimentar a nível global, obrigando-nos a deixar de produzir alimentos e a consumir seus produtos em todo o mundo. Com este informe, a FAO fornece a justificativa para seguir contaminando nossos cultivos, por isso repudiamos o informe e revisaremos nossas estratégias a respeito deste Organismo e de outras Agências da ONU, que fazem o trabalho de legitimação para as empresas transnacionais que promovem a agricultura industrial e a expulsão dos camponeses", afirmou o dirigente camponês Basco e membro do Comitê de Coordenação Internacional da Via, Paul Nicholson.

O informe da FAO colocou em questão a avaliação que a Via Campesina tem feito desta Organização, ao considerar quebrado o compromisso de realizar consultas às organizações camponesas, pois tem-se deslegitimado como fórum para o debate de temas como agricultura e alimentação. O caminho para a Via Campesina está claro : não se trata apenas de exigir que sua voz seja ouvida em Instituições como a FAO, como também seguir trabalhando em suas bases, em redes horizontais e diversas, integrando camponeses, indígenas, comunidades negras, mulheres e jovens ; promovendo a desobediêncai civil, afirmando a diversidade cultural e denunciando as imposições das instituições multilaterais. Em poucas palavras : globalizando a luta, globalizando a esperança.

Maiores informações:

Fonte: Via Campesina


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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