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INTERNACIONAL

Por detrás do brilho: os reais impactos do trabalho da Shell ao redor do mundo

23 junho 2004

Londres, Inglaterra - A gigante do petróleo Shell, já sob investigação por superestimar suas reservas de petróleo, segue sendo acusada de contaminar comunidades, danificar habitats de vida selvagem e falhar no compromisso de responsabilidade sócio-ambiental, conforme o documento lançado pela Federação Amigos da Terra Internacional, hoje, na Casa dos Comuns, durante a reunião anual da empresa.

"Por Detrás do Brilho – o outro Relatório da Shell 2003", documento elaborado por Amigos da Terra Internacional, desvenda um enorme catálogo de miséria das comunidades vizinhas às operações da empresa ao redor do mundo. Estas pessoas já sabem há muito tempo o que os acionistas ficaram agora chocados de saber – as promessas e compromissos da Shell não são o que parecem ser. Representantes destas comunidades estão em Londres para levantar estas preocupações no encontro anual da companhia.

No delta do Niger, de onde a Shell retira 10% do seu petróleo, a companhia falhou ao não investir em tecnologia, resultando em 700 milhões de cf/d (pés cúbicos por dia) de gás sendo queimado no meio-ambiente. Um aumento em relação ao ano passado, a despeito do compromisso de terminar com o "flaring" até 2008. "Gas flaring" desperdiça energia, contribui para o aquecimento global e polui o meio ambiente. Esse processo tornou-se muito comum para as comunidades do Delta do Niger. O petróleo também é desperdiçado. Em 2003, aproximadamente 9900 barris de óleo foram derramados, contaminando terras, cursos d’água, e o suprimento de peixes.

No Texas, a Shell é ré em ação penal proposta por comunidades vizinhas à planta de Port Arthur - literalmente doentes pela poluição em suas próprias terras. Cerca de 1200 moradores alegam que o ar, o solo, e outras contaminações liberam fumaça nociva, vapores, odores e substâncias perigosas da refinaria de motiva, que processa 235.000 barris de petróleo ao dia.

A Shell também sofre ações legais em Manila, Filipinas, onde o depósito da companhia situa-se no centro de uma comunidade residencial; e em São Paulo, Brasil, onde é acusada de contaminar água potável causando sérios problemas de saúde incluindo câncer, infertilidade e problemas respiratórios.

Na ilha caribenha de Curaçao, a Shell fugiu de seus problemas vendendo sua refinaria para o governo em 1985, depois de operar durante 70 anos. A poluição da refinaria contaminou a pequena ilha, que é cercada por uma barreira de corais de 20 km de comprimento, e danificou severamente a saúde da comunidade local com acusações de mortes prematuras, cânceres, defeitos de nascença, bronquites, problemas de pele e asma. A comunidade local trabalha agora para responsabilizar a Shell por estes danos.

Em Lousiana, Estados Unidos, onde a ativista Margie Richard recebeu o prêmio Goldman por sua campanha de justiça ambiental contra a Shell, a comunidade continua lutando por cuidados médicos depois de anos de exposição à poluição causada pela refinaria de Norco. A Shell respondeu comissionando um estudo de análise da comunidade e não de saúde.

Oronto Douglas, representante dos Amigos da Terra Nigéria, na reunião anual da Shell declara: "os negócios da Shell no Delta do Niger têm destruído o meio-ambiente, as terras e a pesca. O óleo derramado não é limpo e a queima de gás domina o horizonte. As pessoas na Nigéria não estão tendo benefícios com a presença da Shell no nosso país e sim pagando o preço. A Shell deve trabalhar com as comunidades locais para limpar o Delta do Niger e para que elas recebam os benefícios por suas operações lá".

Hilton Kelley que participou da reunião anual da Shell em Port Arthur no Texas diz: "Eu realmente esperava que a postura da Shell se modificasse após minha conversa com Sir Philip Watts, em Londres, ano passado, mas a única mudança foi que Watts teve que renunciar ao seu cargo. Nós não tivemos outra escolha a não ser abrir um processo e deixar as cortes decidirem quem está poluindo o que nas nossas comunidades".

Os Amigos da Terra Grã-Bretanha acreditam que as companhias não deveriam poder causar danos às comunidades ao redor do mundo e ainda esconder de seus acionistas os impactos causados. Por isso a organização está pressionando o governo britânico a introduzir uma legislação corporativa para assegurar que as companhias britânicas contabilizem os impactos negativos de suas operações, que são incontáveis, para as comunidades vizinhas - como as atividades da Shell.

O diretor executivo dos Amigos da Terra Internacional, Tony Juniper, disse: "A Shell está sob investigação por superestimar suas reservas de petróleo mas os relatórios mostram que a companhia também superestimou a sua performance ambiental e social. Ao contrário dos acionistas, as comunidades vizinhas à Shell têm pouco ou nenhum direito de reparação. Muitos sofrem problemas de saúde, com a poluição e o dano ambiental que resulta de sua perseguição aos lucros. É hora do governo britânico legislar e dar às comunidades o direito de proteger-se deste abuso corporativo. E estas comunidades devem ser compensadas pelos abusos quando e se eles ocorrerem".

Texto original em inglês em

 

Texto dos Amigos da Terra Inglaterra - Tradução e Versão do Núcleo Amigos da Terra Brasil, com edição da EcoAgência de Notícias - www.ecoagencia.com.br


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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