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TRANSGENIA

O desaparecimento de parte dos pequenos agricultores é questão de tempo, diz Leonardo Melgarejo

A declaração foi dada no I Seminário de Segurança Alimentar em Gestão Ambiental, em Porto Alegre

27 junho 2004 - Especial para a EcoAgência de Notícias


Melgarejo expõe para as Nutricionistas um estudo inédito

Porto Alegre, RS - O desaparecimento de parte dos pequenos agricultores no Rio Grande do Sul é questão de tempo, afirmou o Engenheiro Agrônomo Leonardo Melgarejo em palestra neste sábado (26/6), no I Seminário de Segurança Alimentar em Gestão Ambiental, realizado na capital gaúcha. O palestrante abordou o tema OGMs, Soberania e Segurança Alimentar – O caso da soja transgênica. Melgarejo é Mestre em Economia Rural, Doutor em Engenharia de Produção e funcionário da EMATER/RS, que realiza pesquisas neste campo ao longo dos últimos cinco anos.

O evento foi promovido pela Associação Gaúcha de Nutrição - AGAN, com apoio da Associação Brasileira de Nutrição e do Conselho Regional de Nutrição, com o patrocínio do Laboratório de Análises Químicas e Toxitológicas Green Lab. Também foi promovido pela AMCHAM Brasil e Cidadania Contra a Fome.

Com dados apontados pelo mesmo relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação - FAO utilizado recentemente para propagandear a adesão do organismo aos transgênicos, o que não condiz exatamente com seu conteúdo, Melgarejo enfocou o seu tema no desenvolvimento do agronegócio na transgenia. Segundo o Engenheiro Agrônomo, não existe estudo suficiente e aprofundado sobre as conseqüências futuras que alimentos modificados possam ocasionar nas lavouras e no ser humano. “Há desprezo de informações por parte dos interessados, pois pessoas levam vantagem”, conta. “Dizem que haveria mais possibilidades comerciais para o Brasil. Mas, o que está ocorrendo é a diminuição da produtividade e da qualidade da soja”, completa.

"Na interpretação da FAO", afirma o pesquisador, "a Segurança Alimentar exige esforços articulados que ampliem o acesso das populações vulneráveis a alimentos de qualidade. Estes esforços devem incorporar ações que expandam as oportunidades de trabalho e renda, bem como a qualidade dos alimentos e a produtividade das culturas em que se baseiam."

No caso do Brasil, afirma Melgarejo, "a expansão da soja transgênica, examinada com base em dados das últimas três safras, mostra dramática eliminação de atividades voltadas ao mercado interno (fundamentalmente milho, feijão e pastagens), em detrimento da segurança alimentar". "Ademais, estudos mostram que a substituição de soja convencional por soja transgência contrabandeada, inadaptada a nosso ambiente e sem garantia de sanidade, compromete a produtividade de nossas lavouras e ameaça a agricultura familiar", diz o pesquisador.

Ele salienta ainda que o desaparecimento de parte dos pequenos agricultores é questão de tempo, “há desemprego, êxodo rural e a área rural se encaminha para a homogeneidade”. Devido a esta insegurança da agricultura familiar, Melgarejo informa que o Rio Grande do Sul se dirige para mesma situação que ocorreu na Argentina, que em uma década 30% das unidades produtivas desapareceram. “Hoje há 3,5 milhões de hectares soja plantadas no Estado”.

Com a ampliação das lavouras comerciais transgênicas será inevitável à contaminação das lavouras tradicionais, segundo o engenheiro. “Essa contaminação amplia o controle das empresas e reduz a soberania dos povos e suas nações, mas quando a responsabilização é exigida, as empresas se retiram do mercado”. Ele lembrou que na Argentina grandes empresas, como a Bayer, conseguiram modificar políticas daquele governo. “Quando houve a conversão da economia de peso para dólar, empresas ameaçaram o desabastecimento de insumos, o governo cedeu e houve a reconversão para dólar dos créditos que mantinham com os agricultores”.

Afirmou que "informações internacionais revelam que as persistentes quedas na produtividade média das lavouras transgênicas, além de reduzirem a arrecadação e a capacidade de investimentos públicos, exigem ganhos de escala que inviabilizam os pequenos estabelecimentos, estimulando o êxodo e o desemprego, com seus óbvios reflexos sobre a desnutrição e a insegurança da população - no caso da Argentina, em uma década, a unidade econômica agropecuária da região do Pampa passou de 250 para 538 ha. No período, desapareceram 30% das Unidades Produtivas. Com isto, se estreitou enormemente o espaço ocupado por explorações relacionadas à soberania alimentar. No Rio Grande do Sul, tendência similar vem sendo observada.

Para Melgarejo, há uma conscientização por parte dos responsáveis da comercialização da soja transgênica de que nada foi constatado contra o produto, “é dito às pessoas que não há prova de ser prejudicial à saúde, para eles qualquer problema que acontecer pode ser controlado”. A incerteza científica e a suspeita de danos deve ser prevenida na concepção do engenheiro, que acrescenta “devemos definir as metas com base na alternativa menos danosa e envolver nas decisões sobre o assunto grupos que serão afetados”.

  • O "paper" apresentado no Seminário terá a sua íntegra disponibilizado pela EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais nos próximos dias.

Texto da Jornalista Marina Araujo com Edição da EcoAgência de Notícias - Fotos do Jornalista Guilherme G. Hornos - Especial para a EcoAgência de Notícias - www.ecoagencia.com.br 


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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