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AMAZÔNIA

Conferência Científica apresenta dados sobre a Amazônia

Os benefícios do Programa LBA para a ciência brasileira e o desenvolvimento sustentável da Amazônia

19 julho 2004

Belém, PA - Jamais tantas novas informações sobre a Amazônia foram apresentadas de uma vez só, como vai ocorrer, a partir de 27 de julho, em Brasília, na III Conferência Científica do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia). Mais de 700 estudos, apresentados por cerca de 800 cientistas, os maiores especialistas mundiais em pesquisa amazônica, prometem transformar muito do que se pensava, até agora, sobre a maior das florestas tropicais.

Projeto de valor estratégico

A oportunidade é histórica e estratégica para o Brasil. De fato, a importância da Amazônia vai bem além do lugar-comum de louvar a maior floresta tropical remanescente no planeta ou sua maior fonte de biodiversidade. Entre o que em geral não é citado está o fato da região amazônica ser uma importante fonte continental de vapor d’água da atmosfera, com um papel essencial na formação de nuvens e na determinação do clima regional e até mesmo global. A floresta chega a fornecer grande parte do vapor d’água que se transformará nas chuvas da região Centro e Sudeste.

Mas o panorama é bem maior. Desde a Revolução Industrial a atividade humana tornou-se o principal fator de alteração da composição da atmosfera. O caso do gás carbônico (CO²) é exemplar: principal responsável pelo efeito estufa (aquecimento global do planeta), era encontrado no ar, até 1850, à proporção de 280 partes por milhão (ppm). Hoje o CO² chega à casa das 370 ppm, e teme-se que beire 1000 ppm em 2100.

Dados como esses podem se traduzir, na prática, em grandes mudanças climáticas e impactos sócio-econômico-ambientais ainda maiores. Daí o valor de se medir (do ponto de vista financeiro e não-financeiro) os "serviços ambientais" prestados pela floresta. Pesquisas do LBA colocam em debate, por exemplo, se a Amazônia é uma fonte expressiva de carbono, devido aos desmatamentos ou mesmo um sumidouro do gás ("limpando" até cerca de 600 milhões de toneladas de carbono da atmosfera por ano). Esse serviço de "faxina" atmosférica, por assim dizer, pode vir a valer muito num mundo que se preocupa muito (vide o Protocolo de Kyoto) em como mitigar as mudanças climáticas.

As novas descobertas

Tudo isso faz do LBA um projeto prioritário, onde a abordagem científica busca relacionar os aspectos biológicos, físicos, químicos e sócio-econômicos. Ele é parte do esforço científico global para entender o papel de uma região crítica como a Amazônia contribui para as mudanças climáticas e como ela responde a estas mudanças. Seus modelos já demonstraram, por exemplo, o papel chave dos aerossóis (micro partículas emitidas pelas plantas, entre outras fontes como queimadas, ao redor das quais o vapor de água se condensa) na absorção e espalhamento da radiação solar, bem como na nucleação (formação) das nuvens e na queda das chuvas.

Na Amazônia já é possível falar, graças ao LBA, em várias questões importantes: o balanço de carbono, a formação de nuvens e chuvas, o ciclo de nutrientes das plantas e as conseqüências das mudanças dos usos da terra.

Entre muitas descobertas importantes do LBA, que podem beneficiar direta ou indiretamente a Amazônia, podem-se citar:

  • 1. a comprovação que os desflorestamentos e as queimadas não só aceleram o efeito estufa, como estão diretamente relacionados a mudanças drásticas na formação de nuvens, o que pode diminuir os índices de queda de chuvas não apenas em vastas áreas da Amazônia como em outras partes do país ( Centro Oeste, Sul e Sudeste), especialmente durante o final da estação seca na Amazônia (época das queimadas:agosto/outubro);
  • 2. a descoberta de que nas áreas queimadas as plantas custam a renascer principalmente por falta de nitrogênio e não de fósforo, como se pensava antes, pois o nitrogênio literalmente "vai embora" com a fumaça (na Amazônia brasileira têm sido desmatados entre 20 e 25 mil km quadrados de floresta por ano nos últimos anos), o que aponta para uma possível forma de recuperação dessas áreas, com o uso de adubos altamente nitrogenados;
  • 3. a revelação que devido à grande liberação do nitrogênio para o ar nas queimadas, as chuvas sobre áreas desflorestadas e sobre florestas preservadas são quimicamente diferentes: as primeiras trazem de volta o nitrogênio, em grandes quantidades, sob a forma de amônia, enquanto as segundas trazem nitrogênio em quantidades menores na forma de nitrato, útil nutriente das plantas. A amônia em algumas áreas degradadas da floresta chega a ser tão grande como em cidades como Campinas ou Piracicaba, sendo que este elemento químico acidifica o solo e é diretamente responsável pelas chamadas chuvas ácidas, cujos danos só são perceptíveis em 2 ou 3 décadas;
  • 4. os cientistas já observaram que a fumaça das queimadas, com sua desequilibrada emissão de aerossóis, chega, em algumas áreas da Amazônia, a reduzir a radiação solar disponível para fotossíntese das plantas em até 60%, além de estimular a concentração do ozônio fitotóxico (em até 100 partes por bilhão) que é prejudicial às plantas e danifica a floresta ainda não queimada;
  • 5. a complexidade amazônica tornou-se mais "visível" com o LBA: sabe-se agora que o "inferno verde" não é uma floresta uniforme, mas um mosaico de matas distintas que, entre outras características, se desenvolvem em períodos diversos do ano (por exemplo, as plantas das áreas alagadas, que são 20% de toda a Amazônia, crescem mais na seca, o inverso do que ocorre nas áreas de terra firme), e que nascem, crescem e morrem três vezes mais rápido no Oeste do continente (próximo aos Andes) do que na área do Pará, próxima ao mar;
  • 6. A síntese dos vários estudos sobre o ciclo de carbono de áreas florestais preservadas não excluem a possibilidade concreta de que a floresta amazônica seja um sumidouro de excesso de gás carbono da atmosfera.

Influência política

Estas são apenas algumas das questões que estarão sendo examinadas em profundidade nesta III Conferência.

Os dados apresentados poderão inclusive influenciar discussão e adoção de políticas públicas e de novas leis, que possam ajudar à manutenção da estabilidade hidrológica, da qualidade das águas, da biodiversidade e dos demais serviços ambientais prestados pelos ecossistemas. Não é por acaso que, antes do início da Conferência propriamente dita, os cientistas vão promover, em 23 e 24 de julho, para a classe política e tomadores de decisões estratégicas, a sessão especial intitulada "O Conhecimento Científico e a Formulação de Políticas Públicas para a Amazônia: A Experiência do Programa LBA".

Uma das questões essenciais do LBA é como conciliar a preservação da natureza com as necessidades das populações que vivem na região. Afinal, na Amazônia vivem 24 milhões de pessoas (no Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela), e toda a proposta de um desenvolvimento sustentável da região que permita a evolução social sem destruir o patrimônio natural depende das respostas que os cientistas possam dar a partir de suas pesquisas.

Um bom exemplo é o projeto de asfaltamento da BR 163 entre Cuiabá e Santarém. É grande o temor que a modernização da rodovia acelere o desflorestamento da Amazônia Central. Só para constar, cerca de 14% da área florestal de toda a Amazônia já foi desmatada e quase 30% da área alterada já está abandonada. Os conhecimentos científicos indicam que é possível reduzir substancialmente as taxas de desmatamento através de inovadoras estratégias de ocupação da terra e uso sustentável dos recursos naturais.

A Amazônia é um patrimônio inestimável, com funções garantidoras de qualidade de vida para todo o Brasil, quiçá para o planeta inteiro. O LBA é um exemplo de como a ciência pode contribuir para este fim.

Mais informações:

Serviço

Pré-Conferência:
O Conhecimento Científico e a Formulação de Políticas Públicas para a Amazônia: A Experiência do Programa LBA
Datas: 23 a 24 de julho de 2004
Local: FINATEC, Edífício Finatec, Avenida L3 Norte, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Universidade de Brasília - UnB, Brasília, DF, Brasil.

Conferência:
III Conferência Científica Internacional do LBA
Datas: 27 a 29 de julho de 2004
Local: Academia de Tênis Resort, Setor de Clubes Esportivos Sul, Trecho 04, Conjunto 05, Lote 1B, Brasília, DF, Brasil.

Texto da Jornalista Gloria Malavoglia - Assessoria de Imprensa do INPA


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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