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ÁGUA - POLUIÇÃO

Degradação marinha ameaça água de consumo

A água do mar poderá estar intratável no prazo de sete anos, diz especialista

6 agosto 2004

Dubai - Situados em uma das regiões mais áridas do mundo, os países do Golfo dependem da dessalinização para obterem água potável. Porém, especialistas advertem que a contaminação poderia impossibilitar o tratamento da água do mar para consumo humano dentro de poucos anos. "A extração de petróleo off-shore, as exportações e os vazamentos de velhos navios que passam por aqui são causas de contaminação marinha. A crescente urbanização também leva ao despejo no mar de esgoto, lixo perigoso e substâncias químicas", explicou Ram Prasad, especialista na indústria do gás e petróleo do emirado de Dubai. "Estas são graves ameaças ambientais e necessitamos de soluções urgentes", afirmou Prasad à IPS.

A vulnerabilidade das águas do Golfo se deve ao fato de integrarem um ecossistema marinho semifechado, altamente salino e raso. Em algumas partes, a água tem apenas 35 metros de profundidade. Além disso, o ritmo de evaporação é maior do que em outros mares. Outra complicação é o escasso fluxo de água doce, devido à falta de chuvas e à ausência de rios, lagos e charcos. O ciclo natural da água ajuda a preservar o equilíbrio ambiental, mas, se trata de um processo muito lento, que demora quase cinco anos. "Os países do Golfo dependem em grande parte da água dessalinizada para fins de consumo, e também para a agricultura e em várias indústrias. Mais de 60% dos equipamentos de dessalinização do mundo estão nessa região. Apenas a Arábia Saudita dessaliniza três milhões de toneladas de água do mar por dia", explicou Essam Al Muhairi, pesquisador de uma empresa de dessalinização de Dubai.

Segundo Muhairi, a falta de fluxo de água doce para o Golfo para compensar o acúmulo de água salina e contrapor parcialmente a contaminação representa um problema para a dessalinização. "Esta água (do Golfo) logo pode tornar-se inapropriada para a dessalinização. Como as estações que fazem esse trabalham tratam tanto água salina como contaminada, o crescente nível de ambas poderia tornar a água do mar intratável no prazo de sete anos", advertiu. "Além disso, o processo de dessalinização também aumenta o nível de salinidade", acrescentou Muhairi. Os vazamentos de petróleo são a principal causa de contaminação. Cerca de cem navios petroleiros atravessam as águas do Golfo a cada dia, e por ano descarregam durante sua passagem oito milhões de toneladas de restos de petróleo.

Além disso, em muitos casos a água que resulta da limpeza das cisternas também é jogada no mar ou nas praias. Cada tonelada de petróleo derramado (cerca de sete barris) custa aproximadamente US$ 1.400,00 em limpeza, segundo especialistas. "Além disso, há os vazamentos em razão de navios com rachaduras ou afundados", lembrou Prasad. O especialista também culpou as guerras do Golfo pela depredação do meio ambiente marinho. "Na primeira guerra do Golfo (1001), o exército iraquiano incendiou inúmeros poços de petróleodo Kuwait para cobrir sua retirada. Os incêndios custaram ao Kuwait 3% de suas reservas de petróleo e causaram um imenso prejuízo ao sistema ecológico", destacou Prasad. "No final da guerra haviam sido despejados oito milhões de barris de petróleo nas águas do Golfo", acrescentou.

Outro efeito ambiental da guerra de 1991 foi a destruição de usinas de tratamento de água, que resultou na descarga diária de mais de 50 mil metros cúbicos de esgoto sem tratamento na baía de Kuwait. O custo total dos prejuízos deixados pela primeira guerra do Golfo é estimado em US$ 400 bilhões. Ainda não é possível calcular os causados pela guerra contra o Iraque iniciada em março de 2003. o Serviço Nacional Oceânico dos Estados Unidos identificou o golfo como a quarta "zona crítica", com 108 grandes vazamentos de navios petroleiros registrados desde 1960. a lista é encabeçada pelo Golfo do México, com 267 vazamentos, seguido da região nordeste dos Estados Unidos com 140, e do Mar Mediterrâneo, com 127.

Diante do alarmante ritmo de contaminação marinha, o Conselho Nacional Federal de Emirados Árabes Unidos pediu urgência à Agência Ambiental Federal para criação de um mecanismo para aplicar mais eficazmente as leis ambientais. Uma das organizações que trabalha para reduzir a contaminação no Golfo é a Organização Regional pelo Mar Limpo (Recso), uma associação voluntária e sem fins lucrativos que reúne 12 empresas petrolíferas que operam no Golfo e proprietários de navios-tanque. A Recso também aplica a "ajuda mútua" em caso de vazamentos marinhos, mas seu principal objetivo é preveni-los. "Necessitamos mais destes esforços coordenados. A contaminação marinha é um flagelo tanto para a vida humana quanto a animal, e devem ser feitos os máximos esforços para preveni-la desde suas raízes. Isto só se pode conseguir se todas as partes interessadas trabalharem junto com as autoridades", destacou Prasad.

Reportagem de Meena S. Janardhan  para o Inter Press Service (IPS), distribuído pela Agência Envolverde.


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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