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ARGENTINA

Basta de enterrar o lixo, diz a Greenpeace da Argentina

18 agosto 2004

Buenos Aires, Argentina - Oitenta ativistas da organização ecologista Greenpeace da Argentina se enterraram, na segunda-feira, 16/8, em uma montanha de lixo junto ao Obelisco, monumento característico de Buenos Aires, reclamando uma mudança na gestão dos resíduos sólidos da capital argentina. "O lixo nos causa doenças", dizia o cartaz que os ativistas colocaram junto à montanha de dejetos levada até o Obelisco para o protesto, de onde emergiam os ativistas que participavam do protesto.

O lixo sólido de Buenos Aires, cerca de cinco mil toneladas diárias, é depositado em espaços sobre a terra nos arredores da cidade, sem uma classificação prévia dos dejetos orgânicos e inorgânicos, que permite reciclar materiais como plástico, papelão, vidro e metal. Embora nos últimos cinco anos — devido à crise econômica — tenha se multiplicado a quantidade de catadores informais desses resíduos para vendê-los, o governo local continua confiando a coleta a empresas privadas, às quais paga por tonelada transportada até o aterro sanitário.

Os catadores, chamados de "cartoneros", recolhem uma quantidade de lixo sólido não inferior a 5% do total, antecipando-se aos coletores privados que percorrem as ruas em caminhões durante a noite. A organização ecologista assegura que um aproveitamento produtivo do lixo permitiria reduzir pela metade, no prazo de cinco anos, o volume de lixo, e em 75% até 2015. "Em 2020, se chegaria à meta de lixo zero", arriscou dizer à IPS a ativista Verônica Odriozoloa, do Greenpeace. A cooperativa Novo Rumo, de catadores informais do distrito de Lomas de Zamora, ao sul de Buenos Aires, insiste na urgência de se reciclar o lixo da capital, não somente por razões ambientais, mas sobretudo pela necessidade social de gerar empregos.

Pepe Córdoba, um dos fundadores da cooperativa, explicou à IPS que em Lomas de Zamora, com 800 mil habitantes, a Novo Rumo mantém um depósito para a compra, classificação e prensagem de 60 materiais recicláveis que são vendidos a particulares ou para a indústria. A cooperativa paga aos catadores até 100% mais do que os coletores privados e gera empregos em seus dois depósitos próprios. "Em Buenos Aires seria possível se fazer alguma coisa desse tipo, seria muito fácil. O problema é que ali o Estado paga uma fortuna para não reciclar", afirmou Córdoba. O protesto do Greenpeace aconteceu na véspera do encerramento do prazo para adquirir os editais de uma licitação para a construção de um novo aterro sanitário, a 150 quilômetros da capital. Até sexta-feira, nenhuma empresa havia demonstrado interesse.

Odriozolo ressaltou que a destruição de recursos naturais está implícita no sistema dos aterros de lixo e em seu impacto negativo para a saúde humana, a água, o solo e o ar. Desde meados dos anos 70, Buenos Aires e sua região metropolitana, uma área onde residem mais de 11 milhões de pessoas, criaram o Cinturão Ecológico da Área Metropolitana Sociedade do Estado (Ceamse), entidade pública à qual os coletores devem entregar o lixo para seu destino final. O Ceamse possui quatro depósitos, sendo que um teve de ser fechado no último ano por causa de queixa dos vizinhos.

Antes do anúncio da construção de um novo aterro, 14 distritos da periferia da capital anteciparam sua rejeição. Odriozola citou estudos epidemiológicos para afirmar que a decomposição do lixo provoca contaminação do solo, do ar e da água, e que a localização desses aterros está associada a um aumento dos casos de leucemia, câncer de bexiga e má-formações congênitas. O mau-cheiro exalado pelos lixões é sentido a longa distância. Entretanto, o governo da cidade de Buenos Aires e o da província de mesmo nome insistem com este sistema.

Para a ambientalista, o governo deveria promover uma lei de envasamento que obrigasse a indústria a fabricar produtos com menos embalagens, bens mais duradouras que gerem menos lixo na origem do processo, isto é, na reprodução e no consumo. Do mesmo modo, o Greenpeace considera possível transformar em adubo quase a metade do lixo orgânico. Quanto ao restante, deveria ser organizado um processo de classificação para reciclar diferentes materiais, como papel, plástico, alumínio e vidro, entre outros.

Reportagem de Marcela Valente para o Inter Press Service (IPS), distribuído pela Agência Envolverde.


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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