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NUCLEARES
Reator Experimental Termonuclear: esperança e
temores nucleares
18 agosto 2004
Paris - A candidatura da França como sede do Reator Experimental Termonuclear Internacional (Iter) se fortalece, depois do acidente fatal na central nuclear japonesa de Mihama, na semana passada. A instalação do Iter começará em 2010, mas os participantes da experiência - China, Coréia do Sul, Estados Unidos, Japão, Rússia e União Européia - ainda não decidiram onde. China, UE e Rússia apóiam a França, enquanto Estados Unidos e Coréia do Sul preferem o Japão.
O governo e o setor nuclear franceses evitam se referir em público ao acidente de Mihama, mas em particular mostram esperanças de que o ocorrido tenha afetado a candidatura japonesa a sede do Iter, disse à IPS Michelle Rivasi, diretora do independente Observatório Ambiental Francês. Cinco pessoas morreram e sete sofreram sérias lesões no acidente, que aconteceu no dia 9 passado. Foi o último de uma série de graves incidentes no Japão, o primeiro em 1991 e nessa mesma central nuclear, outro ocorreu na central de Monju em 1995 e uma terceiro em 1997, na central de Tokaimura.
No domingo foi detectado um vazamento de vapor em uma tubulação quebrada em outra central japonesa, a de Sinchi, embora este incidente não tenha sido tão grave quanto o da semana passada. A produção japonesa de eletricidade depende em grande parte das 18 centrais nucleares do país. No entanto, a segurança das 58 centrais francesas, que produzem 80% da eletricidade nacional, não é muito melhor, disse Rivasi.
"Tem ocorrido acidentes em nossas estações nucleares, e não podemos dizer que a tecnologia francesa é melhor do que a japonesa", acrescentou.
"Incidentes extremamente sérios, como o da central nuclear de Civaux, em maio de 1998, nunca foram analisados publicamente", disse, por sua vez, Stéphane Lhomme, porta-voz da organização não-governamental Sortir du Nucléaire. "A transparência, essencial em um assunto tão perigoso como a energia nuclear, não existe na França", advertiu Lhomme. O painel de controle de Civaux, a central mais moderna da França, registrou repentina queda da pressão, no dia 12 de maio de 1998. Engenheiros e técnicos trabalharam freneticamente para decodificar uma série de confusos sinais. Esfriar o sistema demorou nove horas.
Somente depois disso os técnicos conseguiram localizar a falha e trocar uma tubulação quebrada.
"A indústria nucelar e toda a sociedade francesa tiveram nessa noite uma enorme sorte", disse Lhomme. Semanas mais tarde, os engenheiros descobriram outra falha de construção a ponto de causar uma catástrofe: defeitos em uma tubulação soldada. A Agência Alemã de Segurança Nuclear, que investigou a falha, alertou que os técnicos franceses haviam demonstrado "considerável insegurança" ao lidarem com o problema. A central teve de ser submetida a grandes obras de reparos.
Outras centrais nucelares francesas sofreram acidentes semelhantes. Em dezembro de 1999, a que fica na localidade de Blayes, na costa atlântica perto da cidade de Bordeaux, teve de ser fechada depois que a maré alta inundou suas instalações. Ambientalistas advertiram no ano passado que houve incêndios em seis centrais. As equipes de resgate demoraram para agir, em média, mais de 50 minutos, quando o máximo estabelecido é de 15 minutos.
"Todos estes fatos confirmam não só a debilidade inerente da tecnologia nuclear, mas inclusive a do sistema francês de ação diante de uma catástrofe nuclear", afirmou Lhomme.
O medo de prejuízos ao meio ambiente aumentou. Devido à onde de calor que atingiu a França no ano passado, as centrais nucleares agora estão autorizadas a despejarem nos rios a água com mais de 50 graus centígrados. "Ninguém sabe exatamente o efeito que isto terá na saúde pública e no meio ambiente. Deixará de haver controle sobre as descargas radioativas nos rios", afirmou a ativista. Por sua vez, as autoridades ignoram a possibilidade de apelar para fontes alternativas de energia, como o vento ou a luz solar. A Alemanha, por exemplo, tem uma capacidade de produção de eletricidade eólica de 13.500 megawatts, quantidade que cai para 220 megawatts no caso francês.
Reportagem de Julio Godoy para IPS/ Distribuição pela Envolverde (www.envolverde.com.br)
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Última atualização:
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