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ESPANHA

Meio Ambiente: A guerra interna pela água

1º setembro 2004

Madri, Espanha - Enquanto em outras regiões do mundo, como Oriente Médio, a disputa pelo controle das fontes de água doce alimenta conflitos bélicos, na Espanha também se trava uma guerra por esse recurso, sem violência, de caráter político, econômico e social. Os ecologistas pedem a paralisação da construção de 32 represas, os governantes locais de áreas com grandes represas exigem a suspensão do transpasse de água para outras e que se apóie o desenvolvimento das suas, outros pedem que se mantenham ou aumentem, e o governo espanhol atende algumas reclamações e ignora outras.

A poucos dias de assumir o governo, em abril, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero anulou o projeto que havia sido colocado em marcha para construir as infra-estruturas que serviriam para transpassar água do rio Ebro, que atravessa as Comunidades Autônomas de Aragon e Catalunha, até Valência, todas localizadas no oeste do país. Neste caso atendeu as reclamações dos agricultores do delta do rio Ebro e dos governos de Aragon e Catalunha, ambos presididos por dirigentes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), cujo secretário-geral é o próprio Zapatero.

Contudo, deixou sem resposta os pedidos de ambientalistas, agricultores e governantes dos municípios da bacia do rio Tajo, que nasce na central província de Guadalajara e desemboca no Atlântico em Lisboa, para que se suspenda ou diminua a transposição de suas águas para Murcia, região localizada 300 quilômetros ao sul, na costa do Mediterrâneo. Javierl del Rio Romero, psicólogo, professor primário e prefeito do município de Pareja, cargo para o qual foi eleito como candidato do opositor centro-diretista Partido Popular (PP), disse a IPS que estas transposições " deveriam ser totalmente paralisadas".

Pareja é um dos 23 ajuntamentos em volta do Embalse de Entrepeñas, um dique que armazena águas do rio Tajo. Del Rio Romero, também diretor da Associação de Municípios Ribeirinhos das Represas de Entrepeñas y Buendía (este também com águas do rio Tajo), destaca que muitos dos povos da região registram falta de água em suas casas. Além disso, naquelas casas, rurais ou não, se recebem água pública são proibidos de utilizá-las para irrigação. E nesta nossa terra, onde flui a água, vemos ela passar para outras regiões enquanto carecemos de infra-estrutura para a irrigação". Algumas infra-estruturas que todos os governos se comprometeram a instalar desde que na década de 60 foram construídas estas duas represas.

Os pântanos (diques ou represas) de Entrepeñas y Buendía somam uma capacidade de represar 2.472 hectômetros cúbicos. A Associação de seus municípios exige que se mantenha pelo menos 40% de sua água represada, enquanto o socialista José Maria Barreda, presidente da Comunidade Autônoma de Castilla-La Mancha, sugeriu que seja fixada a data de caducidade das transposições, embora sem precisar quando deveriam caducar. "É inconcebível que quatro décadas depois de construída a represa de Entrepeñas, de comprometidas infra-estruturas para nosso fornecimento de água e enviando-a para diversos usos em Murcia, tenhamos de recorrer a caminhões-pipa para levar água a muitos povoados", afirmou Del Rio Romero.

Ao dizer que em Murcia, além da irrigação, a água do Tajo é utilizada para o esporte, como campos de golfe, respondeu: "Uma coisa é o esporte, mas esses campos são utilizados para sustentar grandes negócios imobiliários, enquanto a transposição afeta muito negativamente nossas economias". Em Entrepenãs, ao ser aumentada a porcentagem em 1999 destinada ao desvio parcial o total de cursos de água, a redução do nível da represa afastou sua ribeira cerca de três quilômetros de Pareja. Por isso, agora está sendo construído um novo dique que receberá as águas de dois riachos que até agora chegam à represa de Entrepeñas e que não estará sujeito à transposição do Tajo.

"O lago de Pareja será um impulso para nosso desenvolvimento econômico e social, tanto no setor agropecuário quanto no esportivo e turístico", disse Del Rio Romero. Enquanto isso, concluiu, "esperamos que a ministra (de Meio Ambiente, Cristina Narbona) nos explique o motivo de ter anulado a transposição do Ebro e não faz o mesmo em relação ao Tajo". Por outro lado, a organização não-governamental Ecologistas em Ação (EEA) pede a Narbona que anule os projetos para construir 32 represas, incluídas nas 82 novas previstas no Plano Hidrológico Nacional (PHN), alguns dos quais já estão em obras.

Nos últimos cem anos foram construídas na Espanha mais de mil represas, "o que foi a mais irreversível agressão ambiental já ocorrida em nosso país", recordou Santiago Martín Barajas, especialista em águas da EEA. "Sob essas represas há mais de 500 povoados cujos habitantes tiveram de abandonar seus lares e suas raízes", acrescentou o ecologista. Em Entrepeñas, durante os meses de seca e transposições, baixam as águas e pode-se ver os restos de casas que ficaram sepultadas sob as mesmas há 40 anos, quando foi construída a represa. As 32 às quais se opõe a EEA, "são mais prejudiciais do que o Ebro", prosseguiu Martín Barajas, "porque se trata da inundação e morte de 32 povoados".

Fontes do Ministério do Meio Ambiente informaram que todas estas demandas estão sendo estudadas e que serão tomadas medidas pertinentes após ouvir todos os setores interessados. Martín Barajas o admitiu, pois, disse, já saber que estes temas estão sendo examinados novamente pelas confederações hidrográficas, integradas por representantes dos municípios, governos locais, regionais e nacional. Por sua vez, os governos e associações agropecuárias e turísticas de Valência e Murcia continuam exigindo a transposição de águas, do rio Tajo pelos atuais desvios e desde o Ebro pedindo que se volte a dispor a construção das infra-esturutras. A opção apresentada por Narbona neste último caso, que é substituir a transposição pela instalação de desalinizadores para extrair água do mar, purifica-la e distribuí-la, é considerada inadequada por Valência e Murcia.

Por Tito Drago, para a IPS - distribuição da Envolverde


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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