As últimas notícias da EcoAgência
[ Conteúdo total | Pesquisar | Avançar | Voltar | Página Inicial ]


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

ONG quer utilizar estudantes da rede estadual como agentes da mudança ambiental

6 novembro 2004 - Especial para Ecoagência de Notícias


Delmar Sittoni  sendo entrevistado pelo repórter da EcoAgência.
Foto da Jornalista Denise Helfenstein

Porto Alegre, RS - Transformar estudantes em agentes da mudança ambiental. Este é o desafio do Instituto Saberes e Cuidados Ambientais (ISCA) que surgiu há poucos meses e se propõe a uma grande tarefa: criar uma nova consciência entre os alunos de primeiro e segundo graus no Rio Grande do Sul. No próximo dia 12 (sexta-feira), às 13h30min, durante o Fórum Internacional das Águas, no Hotel Plaza São Rafael, o ISCA lançará seu primeiro projeto, o "Comitezinho", que será desenvolvido na rede estadual de ensino fundamental (primeiro grau).

De acordo com o professor Delmar Sittoni, representante da entidade, o projeto Comitezinho vai trabalhar sobre a importância da água e a gestão dos recursos hídricos. “Vamos lançar uma cartilha para o aluno”, diz ele. “O professor receberá um roteiro metodológico e o grupo faz um processo de formação com os professores, que trabalharão a transversalidade em sala de aula com seus alunos”.

A primeira etapa do projeto foi desenvolvida no final de setembro com alunos da 28ª Coordenadoria Regional de Ensino (CRE), que abrange os municípios de Viamão, Alvorada, Cachoeirinha, Gravataí e Glorinha (todos na Grande Porto Alegre), num total de aproximadamente 30 escolas. Em 19 e 20 de outubro, foi a vez da 27ª CRE, que atinge Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, Nova Santa Rita e Triunfo, com a participação de aproximadamente 40 escolas. “Até o final do ano”, assegura ele, “pretendemos atingir 15 mil alunos do ensino fundamental. Para o primeiro semestre do ano que vem o material será enviado para uma escola de cada uma das outras 30 Coordenadorias do Estado, abrangendo outros 15 mil alunos de primeira à quarta série”.

Projeto Ambicioso

O ISCA lançará, ainda, uma segunda cartilha, mais aprofundada, para ser distribuída da quinta a oitava série, em que a quantidade de alunos é o dobro. Serão 30 mil para os alunos da 27ª CRE e mais 30 mil para o restante do Estado. O projeto está sendo desenvolvido, segundo Delmar Sittoni, numa parceria institucional entre o ISCA, a Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, a Secretaria Estadual de Educação, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) e com apoio do Fundo Estadual de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA).

Ancorado nesses parceiros, o Instituto ISCA pretende fazer um projeto piloto ambicioso, mais ampliado. “A partir do resultado dessa primeira etapa”, revela ele, “pretendemos disponibilizar o projeto para toda a rede estadual de ensino”. A primeira cartilha abordará a relação com a água. Mostrará a importância da água no planeta, com relação ao corpo humano, os impactos das atividades humanas sobre a água, até chegar a construir todo o conceito de bacia hidrográfica e de gestão dos recursos hídricos. “Queremos que o jovem entenda como funciona um comitê de bacia, seu enquadramento, um plano de bacia e a outorga”, afirma.

Pagar pela água é normal

Nos contatos feitos com a comunidade escolar, os integrantes do ISCA sentiram a necessidade de que o tema não seja tratado de forma superficial. “Tivemos um trabalho bastante grande para traduzir conceitos complexos de forma que o aluno possa assimilar e, de alguma forma, ele saiba que a outorga quer dizer que todas as indústrias, a agricultura, quem for utilizar a água vai ter que pagar alguma taxa pelo seu uso. Ele vai crescer com essa noção de que é normal pagar água, enquanto que, atualmente, a grande briga nos comitês com os agricultores e industriais é que eles acham um absurdo ter que pagar pela água que utilizam”, defende Delmar Sittoni.

O passo seguinte é conseguir fazer com que as crianças efetivamente participem do projeto. O professor vai explorar os temas com a cartilha. Haverá palestras de representantes de cada comitê e, representantes do ISCA irão orientar para que os professores trabalhem com os alunos o arroio próximo da escola, de sua casa, em sua cidade. Eles vão procurar fazer alguma atividade, como passeio junto a rios e arroios para ver os motivos de toda a degradação do corpo da água e trabalhar com as crianças no sentido de desconstruir essa poluição, tentando deixar o ambiente mais próximo possível de sua situação original.

Defendendo apaixonadamente essa visão, Delmar Sittoni acredita que a prática, do trabalho de campo servirá para o jovem entenda todo o entorno do local em que vive. “Com isso”, argumenta, “acreditamos que o conceito de proteção ambiental ganha sentido e importância, já que será aplicado na casa do aluno, em questões de higiene, na limpeza do pátio, em não jogar lixo na rua, nos terrenos baldios e, muito menos nos nossos rios e arroios”.

As cartilhas serão produzidas em papel jornal. Elas não terão grande durabilidade, entendem os defensores do projeto. Mas, em contrapartida, a informação poderá atingir uma massa maior de pessoas. Se fosse feita em papel de melhor qualidade, os custos poderiam inviabilizar todo o projeto. A tiragem inicial será de 30 mil cartilhas, com 32 páginas todas coloridas e com um custo inferior a R$ 0,30 a unidade.

A aposta no futuro é grande. Com a experiência de muitos anos com escolas, com prefeituras e, principalmente, voltado para a educação ambiental levou os organizadores a concluírem que quando a criança se encanta com o tema em sala de aula, esse mesmo tema acaba virando seu assunto em casa. E ao levar uma cartilha dessas para dentro de casa, certamente essa informação irá chegar às famílias, aos irmãos, aos pais e, pelo entusiasmo da criança poderá produzir grandes mudanças na consciência ambiental. “Queremos produzir boas informações que encantem, que seduzam os alunos e, com isso, eles se transformem em agentes da mudança ambiental”, conclui entusiasmado o professor Delmar Sittoni.

O que é o ISCA ?

O Instituto Saberes e Cuidados Ambientais é uma ONG criada neste ano, mas composta por pessoas que têm uma longa experiência e trabalho em diversos aspectos da área ambiental. Há professores da UFRGS, como Paulo Brack (botânico), Henrique Ravenac (do Laboratório de Geoprocessamento), Jane Vasconcelos (ex-administradora do Parque de Itapuã), Jan Karel Jr. (que trabalha na unidade de conservação da SEMA), entre outros. A grande proposta do ISCA é pegar as informações que estão dentro das universidades, dos órgãos públicos e traduzi-las para que possam ser trabalhadas nas escolas e para o público em geral. O Instituto quer transformar a informação que está em um nível acadêmico, para uma forma técnica que atinja o público em geral.

No projeto do ensino médio seus integrantes deverão trabalhar com imagens de satélite, sendo que cada aluno da escola abrangida irá receber, no tamanho de uma folha de jornal aberto, uma imagem de satélite de sua bacia hidrográfica. Ou seja, os alunos de escolas públicas vão trabalhar com imagem de satélite antes que as prefeituras e os órgãos públicos. O objetivo é transformar a informação teórica e de difícil acesso, em domínio público.

Jornalista Juarez Tosi (juarez@ecoagencia.com.br), especial para EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais.


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
O texto divulgado pela EcoAgência de forma EXCLUSIVA poderá ser aproveitado livremente em outros saites e veículos informativos, condicionada esta divulgação à inclusão da seguinte informação no corpo do material: Nome do Jornalista - e-mail © EcoAgência de Notícias - www.ecoagencia.com.br.

As fotografias deverão ser negociadas com seus autores.