por
Public Citizen
Brasil
Os alimentos são irradiados por exposição a elevadas doses de radiação ionizante - o equivalente ao recebimento de milhões de
raios-x no tórax. Os defensores do uso da irradiação afirmam que esta mata
bactérias e aumenta o tempo de estocagem dos produtos alimentares. Na verdade,
a irradiação apenas mascara a sujeira nos alimentos, provocada pela produção
industrializada e não regulamentada de carne, e pelas precárias condições
sanitárias existentes nos grandes matadouros corporativos. Ao aumentar o tempo de
estocagem, a irradiação permite que as corporações multinacionais produzam
alimentos no hemisfério sul, sendo depois irradiados e enviados às nações
consumidoras ganhando, assim, controle sobre o abastecimento global de
alimentos. Estas empresas precisam da irradiação, mas não os consumidores e
cidadãos preocupados, os ambientalistas, os defensores dos trabalhadores, e os
pequenos produtores de alimentos!
O
Brasil, com quatro épocas de cultivo e uma massa terrestre que se aproxima do
tamanho dos Estados Unidos, é um importante exportador de frutas e verduras –
mais de 39 bilhões de quilos anualmente. No entanto, a economia agrícola
brasileira enfrenta vários problemas com isso, devido à fragilidade da moeda
brasileira, que encoraja a exportação. As perdas pós-colheita são
significativas, devido à falta de infra-estrutura para transportar produtos
agrícolas através de um território grande e altamente sensível.
Segundo
informações da Anvisa (Agência Nacional de VigilânciaSanitária) atualmente três empresas possuem
autorização para irradiar alimentos no Brasil. São elas: CBE, Embrarad e Tech Ion. As duas primeiras possuem plantas localizadas nas cidades de Jarinu e Cotia (SP) e a Tech Ion, com sede Manaus
(AM) formou uma joint venture
com a multinacional norte-americana Sure Beam há dois anos e está com uma planta de irradiação no
Rio de Janeiro (RJ) em fase de testes.
O
aumento da irradiação no Brasil traz vários problemas.
A
irradiação destrói vitaminas - até 90% da vitamina A na galinha, 86% da
vitamina B em aveia, e 70% da vitamina C em sucos de fruta. À medida que o
tempo de estocagem aumenta, mais nutrientes são perdidos. A irradiação produz
novos compostos nos alimentos, associados a câncer e a alterações genéticas em
células humanas e de ratos. Cinqüenta anos de pesquisa mostraram sérios
problemas de saúde em animais de laboratório que comeram alimentos irradiados,
incluindo morte prematura, mutações, deficiências nutricionais, morte pré-natal
e outros problemas reprodutivos, hemorragia interna fatal, sistemas
imunológicos destruídos, dano a orgãos, tumores e
crescimento atrofiado. As instalações de irradiação que funcionam com césio-137
ou cobalto-60 radioativos ameaçam trabalhadores e comunidades devido à
possibilidade de vazamentos e acidentes radioativos. No Brasil, muitas dessas
instalações trabalham com cobalto-60. A irradiação pode matar bactérias, mas
não mata vírus ou remove sujeira, toxinas, urina, fezes e fuligem, adquiridos
nos matadouros ou em instalações de processamento com precárias condições de
higiene.
A
irradiação estimula a monocultura e o cultivo de alimentos lucrativos,
ameaçando a biodiversidade. Sacrifica a sustentabilidade
ecológica ao encorajar produção maciça, o que depende de um maior uso de
pesticidas químicos. Os resíduos radioativos das instalações de irradiação são
transportados por grandes distâncias, aumentando o risco de acidentes
radioativos que danificariam ecossistemas locais e ameaçariam a saúde pública.
As instalações de irradiação têm um histórico de vazamentos e acidentes que
ameaçam ecossistemas locais.
A
irradiação de alimentos é uma solução muito cara para o problema da segurança alimentar, atuando nos sintomas em detrimento
das causas. Os alimentos que são produzidos de uma forma sustentável não
precisam de irradiação. A irradiação encoraja o transporte maciço, prejudicial,
e dispendioso de alimentos. Os alimentos que são cultivados e consumidos localmente
não precisam de irradiação. A adoção maciça da irradiação de alimentos limita o
direito das pessoas de escolherem onde e como os seus alimentos serão
produzidos. Um sistema alimentar que é democrático e que concede poder aos cidadãos para fazerem escolhas sensatas não
precisa de irradiação. A irradiação de alimentos abre caminho para as
corporações multinacionais, às custas de pequenos produtores de alimentos que
não precisam de irradiação.