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FME- Educar no meio ambiente age sobre o cérebro das crianças, diz Fritjof Capra

De: - EcoAgência de Notícias
Date: 23-jan-03
Time: 11:03:39

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Em sua primeira conferência após a chegada a Porto Alegre, dia 22, o físico austríaco e professor da Universidade de Berkley, Califórnia, falou sobre os trabalhos do Centro de Eco Alfabetização (Center for Eco Literacy), dirigido por ele, naquela universidade. O sistema de alfabetização ecológica, desenvolvido por ele, já está sendo adotado por diversas escolas da Califórnia.

A idéia é a de uma educação voltada para a natureza, colocando as crianças em ambientes abertos, para que compreendam como se organizam as redes vivas que dão suporte à vida em todo o planeta. Para explicar a sua alfabetização ecológica, Capra exemplificou com um dos projetos adotados, baseado na jardinagem e culinária com os alimentos cultivados. "A jardinagem integra e dá vida a todas as atividades da escola. Uma das características básicas da vida é que a energia flui através dos seres e dos ciclos ecológicos. Onde se vê vida, se vê redes. Onde se vê redes vivas, se vê ciclos", explicou.

A prática da jardinagem e da culinária pelas crianças, de acordo com ele, as torna conscientes de o quanto estão integradas nessa rede, ao vivenciarem o processo de plantio, colheita, processamento dos alimentos, compostagem das sobras e novamente o plantio, em um processo que não deixa restos. "Para as crianças, estar no jardim é algo mágico. Você pode ensinar qualquer coisa, mas estar ali plantando, colhendo e cozinhando fica em seus corações para toda a vida", diz Capra. "No jardim pode-se acompanhar o processo de nascimento, amadurecimento, declínio e morte, seguidos de um novo nascimento e outro ciclo".

Mas além disso, de acordo com o físico, avanços recentes das pesquisas científicas demonstram que o aprendizado no jardim tem conseqüências duradouras no cérebro dos indivíduos. "O cérebro é um sistema sensível, auto-adaptável e complexo, onde o corpo e a mente interagem continuamente", explica. "O crescimento do cérebro é o crescimento de um sistema complexo de redes neurais e o crescimento da criança possibilita infinitas conexões nessa rede. Quais conexões se formarão e os caminhos e funções desenvolvidos dependerão muito do ambiente da criança. A rede neural modifica suas conexões conforme o ambiente, especialmente na tenra idade.

Para Capra, a exposição precoce a um ambiente rico em experiências sensoriais, com cores, sons, odores e texturas diversos, terá efeitos benéficos duradouros, enquanto a repressão disso significará um prejuízo ao desenvolvimento. Além das experiências, ele apontou também a importância das emoções, no processo. "As emoções sempre foram consideradas como separadas do pensamento. Mas recentemente os cientistas descobriram que a emoção e a conexão das redes neurais interagem constantemente", disse. De acordo com ele, o que aprendemos é, inclusive, organizado pelas emoções. Durante o desenvolvimento as células do cérebro se agrupam para adquirir sincronia, em um processo onde as emoções são essenciais. "Por isso, é crucial uma aprendizagem socialmente segura, pois toda aprendizagem é fundamentalmente social, como já dizia Paulo Freire", afirmou, sendo bastante aplaudido pela platéia de cerca de 500 pessoas, em um anfiteatro lotado.

Por fim, Capra apresentou um terceiro elemento que considera essencial para a aprendizagem, além do ambiente sensorial rico e da segurança emocional: comunidades saudáveis. "Isso sugere o desenvolvimento de um currículo integrado, no qual as diversas disciplinas estão a serviço de um foco central", explicou, ressaltando a importância da comunicação e da interação entre os diversos professores, pais e alunos, formando uma rede que coopera na aprendizagem.

A sugestão do físico, para se atingir esse tipo de ensino é a aprendizagem baseada em projetos. "Essa aprendizagem baseia-se no envolvimento dos alunos com o mundo real, então em nossas escolas nós aplicamos essa aprendizagem baseada em projetos", disse. Para Capra, a adoção desse novo tipo de ensino, integrando os indivíduos com o meio ambiente, pode levar ao desenvolvimento de uma nova geração que, conesciente do seu papel e de sua integração na teia da vida, busque alternativas para reverter o processo de degradação que vivenciamos atualmente. "Um novo mundo é possível", concluiu.

André Muggiati, REBEA (Rede Brasileira de Educação Ambiental), amuggiati@uol.com.br


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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