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FSM – Redes solidárias
são contraponto ao
capitalismo globalizado

Euclides Mance
Foto de
Aldem Bourscheit - aldem@ecoagencia.com.br 

De: - EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
Data: 27-jan-03
Hora: 16:15:30

Para o filósofo Euclides André Mance (foto), o atual modelo de desenvolvimento, apoiado no capitalismo globalizado, é gerador de exclusão social e de degradação ambiental. Logo, quando são consumidos produtos e serviços de empresas que exploram trabalhadores e destroem o equilíbrio ecológico, ocorre o estímulo a um sistema responsável por esses danos à humanidade.

Mas, segundo ele, se você praticar a chamada economia solidária, com base nas Redes de Colaboração Solidária, estará garantindo seu bem viver e contribuindo para reduzir a exploração dos trabalhadores e para manter o equilíbrio dos ecossistemas. O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretor do Instituto de Filosofia da Libertação (Ifil) realizou oficina sobre o tema na tarde desta segunda-feira, na Pontifícia Universidade Católica do RS, dentro das atividades do Fórum Social Mundial 2003.

As Redes de Colaboração Solidária são fundamentadas em um sistema de produção onde não pode haver exploração nem dominação dos trabalhadores, com equilíbrio nos processos, com uso de insumos produzidos de forma ecologicamente correta, e com partilha dos excedentes, havendo reinvestimento e formação de novas redes. “A idéia é remontar cadeias produtivas, fazendo com que saiamos do labirinto capitalista, criando outra economia”, disse Mance.

O sistema de produção e consumo solidário tem origem nas várias formas que a sociedade encontrou para enfrentar a exclusão, em várias partes do globo e de forma fragmentada, principalmente a partir do início dos anos 60. O movimento, no entanto, tem crescido com base na troca de experiências e na adaptação destas a cada realidade local. “Quanto mais diversidade, mais conexão e fluxo e mais realimentação, mas força terá o modelo de rede criado”, salientou o filósofo.

Na relação da economia solidária com o mundo capitalista, avisa Mance, é preciso sempre avaliar os “fluxos de valores”. “Assim, quando é necessário adquirir um produto gerado no capitalismo, valores do sistema solidário escapam e deságuam naquele sistema. Uma forma de equilibrar essa conta é comprar itens dentro das redes de economia solidária. E se tal item ainda não é produzido, devemos estimular o desenvolvimento dessa capacidade, difundindo o consumo solidário”, explicou. “Caso as redes não corrijam esses fluxos, podem acabar sendo engolidas pelo mercado”, advertiu Mance.

ECOLOGIA

O consumo, comércio e produção solidários são capazes de viabilizar uma nova sociedade, mais justa e ecologicamente equilibrada. Tal prática gera postos de trabalho e distribuição de renda, sendo uma alternativa viável para assegurar o bem viver do conjunto das sociedades. No entanto, muitas empresas do sistema capitalista vêem na ecologia mais uma simples oportunidade de manutenção e ampliação das margens de lucro. O mesmo ocorre com pequenos produtores, que não ultrapassam a lógica de mercado, apesar de direcionarem sua produção para itens mais ecologicamente corretos. “A questão não é só produzir de forma orgânica, sem insumos químicos, sem venenos. Temos que observar também a dimensão solidária, já que hoje temos muitas empresas capitalistas que também lançam seus produtos orgânicos no mercado”, disse o professor. “A questão é ecológica, no sentido mais profundo, mais sistêmico da palavra”, completou.

À medida que as redes avançam, percebendo que não podemos continuar produzindo e consumindo de forma ambientalmente insustentável e socialmente injusta, segundo o filósofo, poderemos testemunhar a passagem do capitalismo para uma sociedade pós-capitalista. De acordo com Mance, na Argentina existem mais de três milhões de pessoas que fazem trocas solidárias, e, na Europa, existiriam mais de três mil lojas que trabalham com itens da economia solidária. No Brasil, conforme ele, são quase 700 empreendimentos de economia solidária integrados em um sistema de informação. “Mas o número deve ser bem maior, já que muitos projetos ainda não foram cadastrados”, alertou.

NOVA LÓGICA

Pela lógica do mercado, o produto mais barato é aquele que mais degrada o meio ambiente e mais explora o trabalho humano, contribuindo para a acumulação desmedida de capitais. A lógica da economia solidária, no entanto, é aquela que promove o bem-viver e a preservação ambiental, com distribuição de renda. “Quanto mais se distribuem as riquezas na economia solidária, mais a riqueza coletiva aumenta, sendo possível gerar mais postos de trabalho e mais consumo. Mas tudo isso sempre observando os limites ecológicos, os limites do planeta”, salientou Mance.

            A situação de miséria e degradação ambiental é insustentável sob vários aspectos. No Brasil, mais de 40 milhões de pessoas sofrem com a fome, pressionando os ambientes urbanos e naturais e a sociedade como um todo. As Redes de Colaboração Solidária podem, então, se tornar uma alternativa viável para que excluídos e cidadãos comuns possam vir a consumir mais e melhor, sempre respeitando os limites de uma lógica sustentável, que seja capaz de satisfazer nossas reais necessidades presentes sem prejudicar o futuro do planeta.
 

Para saber mais sobre as Redes de Colaboração Solidária
www.redesolidaria.com.br

e sobre André Euclides Mance
www.euclidesmance.pro.br

Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária www.anteag.org.br/historico.asp
 

Aldem Bourscheit - aldem@ecoagencia.com.br - © EcoAgência de Notícias, janeiro 2003 - http://www.ecoagencia.com.br. Membro do NEJ/RS e Assessor de Imprensa da Abema


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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