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EMPRESAS - Klabin segue a vocação da reciclagem seguindo Lutzenberger

Enquanto aguarda ainda para o primeiro semestre as audiências públicas referentes à duplicação de sua planta, a Klabin/Riocell inaugura uma central de tratamento de resíduos que promete processar melhor e mais na metade do espaço  


EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
19-mar-03

Guaíba, RS - Maior recicladora de papéis do Brasil, com 400 mil toneladas por ano, ou 25% do mercado nacional de reciclagem desse produto, a   Klabin deu hoje (19/3) mais um passo para consolidar essa vocação. Em parceria com a Vida Produtos e Serviços em Desenvolvimento Ecológico, a empresa inaugurou em Eldorado do Sul (RS), num horto florestal de 100 hectares, uma central de tratamento e reciclagem de rejeitos industriais que promete a utilização de novas tecnologias.
Lara Lutzenberger, presidente da Vida Produtos e Serviços em
Desenvolvimento Ecológico e da Fundação Gaia, acompanhada de
Geraldo Haenel e Wilberto Lima Jr, diretores da Klabin/Riocell

"São processos de alta eficiência, que estão sendo desenvolvidos há mais ou menos 15 anos", resume a diretora da Vida, Lara Lutzenberger, herdeira de um trabalho iniciado por seu pai, o ecologista José A. Lutzenberger. Segundo ela, a central do horto terá um padrão tecnológico bastante superior ao que vem sendo mantido na área de aterro que a Klabin possui atualmente:

"Faremos muito melhor, e ainda com a metade da área que tínhamos anteriormente". A nova unidade poderá processar também os resíduos da planta da Klabin a ser duplicada e ainda acolher resíduos de outras empresas da vizinhança. Uma delas, a Boris Cascade, já manifestou interesse no projeto.

O Governador do Estado, Germano Rigotto, e Lara Lutzenberger
A central de tratamento e reciclagem poderá receber 182,8 mil toneladas de resíduos por ano, tendo capacidade de absorver mais de 98% dos rejeitos recicláveis da unidade da Klabin em Guaíba (Riocell), no Rio Grande do Sul.

A licença de operação foi dada em novembro do ano passado pelo órgão estadual responsável, a Fepam, e a expectativa é de que os primeiros produtos da central – fertilizantes orgânicos e adubos calcários – possam estar no mercado já em julho ou agosto deste ano.

Para erguer a unidade, a Klabin/Riocell investiu R$ 1,9 milhão, e a Vida colocou mais R$ 900 mil em contrapartida. "Queremos apresentar soluções para o problema dos resíduos", assinalou o diretor-gerente da Klabin/Riocell, Geraldo Haenel, que garantiu que o retorno do investimento, "a preservação da vida", é por si mesmo compensador.

O diretor de Assuntos Corporativos da Klabin/Riocell, Wilberto Lima Junior, destacou o que considera uma mudança de paradigma na trajetória da empresa: de vilã do meio ambiente, no tempo da antiga Borregaard, a companhia passa a ter essa imagem desfeita, segundo ele, pela opinião pública: "Estamos sendo reconhecidos com o Prêmio Top of Mind de Ecologia", disse.

 

VENDA - No que diz respeito aos rumores de venda da Klabin/Riocell, a Assessoria de Comunicação da empresa esclareceu que não se trata especificamente de venda da unidade, mas de uma colocação de ativos no mercado, no valor de US$ 300 milhões, para fazer frente à rolagem de dívidas cujo peso se acentuou com a desvalorização cambial.

Esses ativos poderão ser de várias das 25 unidades da Klabin no Brasil, e não de uma única unidade. Já com relação ao andamento do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de duplicação da planta de Guaíba, o diretor-gerente explicou que o documento está disponível na Internet, através do saite da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler - Fepam (www.fepam.rs.gov.br). "Esperamos que as audiências públicas sejam marcadas para antes de junho", declarou.

O engenheiro Renato Chagas, da Fepam, explicou que o EIA/RIMA da Riocell está sendo estudado por uma equipe multidisciplinar e que não é possível fazer uma previsão exata sobre a época das audiências. "A única certeza que temos é de que haverá pelo menos duas audiências, uma em Guaíba e outra em Porto Alegre", afirmou.

 


Deputado Bernardo de Souza também esteve presente. Quando Prefeito em Pelotas, José Lutzenberger trabalhou com ele a questão do lixo.

"Tivemos um longo aprendizado"

Agrônomo diz que a nova central de tratamento é resultado de experiências e conhecimentos acumulados a partir da "teimosia" e da persistência do ecologista José Lutzenberger, que teve a "sorte" de ver suas idéias bem acolhidas por alguns diretores da Riocell

Fernando Noal Bergamin, gerente
operacional da Vida
"O que estamos vendo hoje é o resultado de um trabalho que começou lá por volta de 1988, quando o professor José Lutzenberger conseguiu fazer valerem as suas idéias, que eram tidas como meio visionárias naquela época", conta o engenheiro agrônomo Fernando Bergamin, gerente operacional da empresa Vida Produtos e Serviços em Desenvolvimento Ecológico.

Ele relata que, até o final dos anos 80, 90% dos resíduos da Riocell eram colocados em aterros, inclusive os rejeitos calcários e orgânicos, no Horto Cascata, perto da própria Klabin, em Guaíba (RS). A central de aterros existente no local havia sido adaptada para ser uma central de reciclagem. "Mas era algo provisório, apenas alteramos algumas estruturas que tínhamos por lá."

O grande salto da nova unidade do Horto Florestal José A. Lutzenberger é a tecnologia. Lá serão reciclados 98% dos resíduos não perigosos da empresa. "Teremos quatro valas de fermentação de lodo de celulose. Esse material, após compostado, ainda líquido, desce por ação da gravidade até os leitos de secagem. O maior ganho é a possibilidade de controle total do processo, sem danos ao meio ambiente, pois as valas são totalmente impermeabilizadas com mantas plásticas especiais", explica. Toda a operação de secagem do lodo é realizada em áreas cobertas, de modo que ele fica livre de eventuais águas da chuva. "Desta forma, não há a formação de chorume (líquido resultante da decomposição da matéria orgânica), ou seja, não é necessário tratar esse efluente porque ele não existe", prossegue.

Bergamin assinala que os lodos das estações de tratamento de efluentes contêm cada vez menos teores de cloro porque a Klabin/Riocell está utilizando, nos últimos anos, uma tecnologia de produção na qual o cloro elementar foi substituídio por compostos de cloro menos agressivos. Ele informa também que toda a compostagem biológica é controlada tendo em vista a redução dos efeitos da liberação de resinas fenólicas da madeira, compostos naturalmente presentes em cascas de árvores, mas que podem ser prejudiciais ao meio ambiente devido à ação da chuva sobre as cascas.

O solo destinado à compostagem está sendo cuidadosamente trabalhado, contando com três camadas de argila de 20 centímetros de altura cada uma, numa extensão total de 15 hectares, que correspondem a aproximadamente 17% da área total do horto. Ao mesmo tempo, é realizado um criterioso trabalho de monitoramento do lençol freático, em 23 pontos do horto. "Isto já vem sendo realizado há quatro anos, de modo que temos como localizar qualquer problema com a água subterrânea", informa Bergamin. Já em relação às águas superficiais, o controle de qualidade é efetuado por meio de 10 lagoas de decantação, instaladas em seqüência, num sistema que utiliza plantas como indicadores biológicos.

O projeto do horto teve início em 1994, tendo sido reformulado em 1998. A escolha da área de sua localização foi bastante trabalhosa, conforme Bergamin, porque os técnicos tiveram que levar em conta inúmeros detalhes, inclusive a direção dos ventos. "Esta área foi selecionada entre dez", afirma. Economicamente, o engenheiro garante que a reciclagem é muito mais rentável. "Se fôssemos fazer um aterro segundo as especificações das normas da ABNT, custaria 40% mais caro", compara.

Estiveram presentes também Augusto César Cunha Carneiro, Presidente da PANGEA - Associação Ambientalista, Secretários de Estado, Deputados Estaduais, o Vereador Beto Moesch, presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente de Porto Alegre, e outras autoridades. 

Texto e fotos da Jornalista Cláudia Viegas - claudia@ecoagencia.com.br  para a EcoAgência de Notícias -
Cláudia Viegas esteve no evento à convite da Vida e da Klabin.

Edição: Jornalista João Batista Santafé Aguiar - jb@ecoagencia.com.br


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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