As últimas notícias da EcoAgência
[ Página Inicial - Buscar - ]


Manifestação contra a Soja Transgênica une trabalhadores do setor alimentação e ambientalistas

EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
06-mai-03

 

Um grupo de ambientalistas, artistas, trabalhadores do setor da alimentação, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, - entre outros representantes da sociedade civil - realizou um protesto bem humorado contra a comercialização da soja transgênica, nesta segunda-feira (5/5), no centro de Porto Alegre.

Quem passou pela esquina democrática, entre 12h e 14h, pôde observar a encenação de um personagem que morreu após consumir a soja geneticamente modificada e depois ficou exposto ao público, deitado dentro de um caixão com um prato de soja sobre seu corpo. Este foi o principal símbolo do ato “Por Um Mundo Livre de Soja Transgênica”, que contou também com a participação de uma comitiva internacional.

A manifestação, organizada pela União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação (UITA), Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação e Assalariados Rurais (Contac) e pela Federação dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação do RS (FTIARS), foi um evento paralelo ao Encontro Internacional dos Assalariados Rurais, que trouxe à Capital gaúcha representantes de entidades cerca de 30 países da Ásia, África, Europa e Américas.

“Resolvemos trazer os nossos convidados ao ato para mostrar como o brasileiro está preocupado com a questão dos transgênicos”, afirmou Siderlei Oliveira, presidente da Contac. Segundo ele, as entidades de trabalhadores européias começaram a se corresponder com o Brasil preocupadas com as notícias sobre a exportação dos transgênicos, divulgadas pela imprensa internacional.

“Depois da liberação da safra gaúcha, a imprensa européia está divulgando que os transgênicos estão liberados em todo Brasil, e as empresas estão cogitando fazer boicote ao nosso produto, o que pode gerar uma grande crise nas exportações” explica. Uma das principais preocupações é com a indústria avícola, pois, segundo o dirigente, os frangos exportados do Sul do Brasil para a Europa são alimentados com ração transgênica, e isso está aparecendo agora em testes feitos em países europeus.

Experiências internacionais

Uma situação semelhante ao que ocorreu com o plantio de soja geneticamente modificada no Rio Grande do Sul aconteceu com o cultivo do algodão na Índia. Apesar de não ser permitida por lei a produção e a comercialização de produtos geneticamente modificados naquele país, duas empresas começaram a vender sementes de algodão modificadas aos produtores e, recentemente, as pesquisas comprovaram a má qualidade do produto.

Meena Patel é Coordenadora de Educação do escritório do Sul da Ásia do Sindicato Internacional de Alimentação e conta que na Índia ainda não há uma produção comercial de alimentos geneticamente modificados, entretanto o governo daquele país autorizou experimentos e diversas entidades da sociedade civil estão preocupadas com a questão, dado o problema que já ocorre com o algodão.

Essas entidades estão se organizando para distribuir para a população informações sobre os problemas que outros países estão identificando com o consumo de alimentos transgênicos. Patel salienta que há outras maneiras de aumentar a produção sem recorrer às sementes geneticamente modificadas.

Essa também é a opinião de Adwoa Sakyi, representante do Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação de Gana. Na África, a pobreza e a fome têm sido usadas como argumento para disseminação do consumo e produção de alimentos transgênicos. Entretanto, entidades representantes de agricultores e ambientalistas afirmam que o plantio de transgênicos não vai trazer mais comida para os povos africanos, já que esse é um problema mais de distribuição de renda do que produção de alimentos.

Em Gana hoje existe uma campanha nacional contra os transgênicos que está conseguindo impedir que o governo daquele país compre ou permita a produção de organismos geneticamente modificados. Além disso, eles procuram associar o cultivo de transgênicos com a dependência de pesticidas e fertilizantes inorgânicos nas lavouras. Para Sakyi, a luta contra os transgênicos passa pela disseminação da produção orgânica, uma produção mais limpa e saudável.

Em Gana, a população em geral não está bem informada sobre os impactos que o consumo de alimentos transgênicos pode ter na saúde e no ambiente, por isso, as entidades que estão realizando a campanha nacional contra transgênicos busca associar seu consumo com o surgimento de doenças, associando a segurança alimentar com a alimentação orgânica.

Avaliação do Ato

Edi Xavier Fonseca é presidente da AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural e uma das organizadoras do ato “Por Um Mundo Livre de Soja Transgênica” que teve sua primeira edição também na Esquina Democrática em abril. Segundo ela as pessoas estão mais receptivas em relação ao primeiro ato, levando consigo os panfletos distribuídos e algumas inclusive parando para conversar sobre o tema. “Nós também estamos enfatizando que não somos contra a pesquisa em biotecnologia, apenas queremos mais cuidado na liberação desses alimentos já que não há pesquisas que nos tranqüilizem sobre os possíveis efeitos sobre a saúde e o ambiente” – diz ela.

Nelson Diehl é membro da Pangea - Associação Ambientalista e conta que as diversas entidades da sociedade civil que organizaram o ato na Esquina Democrática estão se organizando em uma rede civil de pressão para que os governos Federal, Estadual e Municipal tomem atitudes firmes no sentido de que prevaleça o Princípio da Precaução em relação à produção comercial e consumo de alimentos transgênicos.

Ele conta que em 1999 o governo estadual do Rio Grande do Sul, gestão recém assumida pelo Partido dos Trabalhadores, realizou uma pesquisa identificando que 70% da população sabia o que era um transgênico. Isso se deveu a uma série de campanhas e atividades organizadas por organizações civis visando a disseminação de informações. Segundo Diehl, depois disso houve uma desarticulação do movimento “porque o governo adotou uma estratégia própria de ação e neutralizou a sociedade civil, que se acomodou achando que o governo e o PT eram efetivos na luta contra os transgênicos”, um misto de comodismo e ingenuidade que, na avaliação dele, favoreceram a atual situação da safra de soja gaúcha, quase toda transgênica.

Os próximos passos da mobilização contra a liberação da produção e consumo de organismos geneticamente modificados serão novos atos de distribuição de informações para a população, além de um seminário na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, denunciando que alguns alimentos indicados pela prefeitura do município para serem doados à Campanha Fome Zero são transgênicos, como o leite de soja em pó.

Também está sendo organizada uma discussão em conjunto com a Ordem dos Advogados do Brasil em junho.

(Por Gisele Neuls gisele@ecoagencia.com.br e e Sabrina Mello, Exclusivo para EcoAgência de Notícias - www.ecoagencia.com.br)


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
O texto divulgado pela EcoAgência de forma EXCLUSIVA poderá ser aproveitado livremente em outros saites e veículos informativos, condicionada esta divulgação à inclusão da seguinte informação no corpo do material: Nome do Jornalista - e-mail © EcoAgência de Notícias - www.ecoagencia.com.br.

As fotografias deverão ser negociadas com seus autores.