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Quem recebe o grupo de Porto Alegre é Vilmar Ieggli Coelho, presidente da Colônia Z-5 e da Federação dos Pescadores do RS. “Todo esse lixo foi catado na água perto das ilhas. Ilha das Flores, Ilha Grande dos Marinheiros, Ilha da Conga, Ilha do Lage, Ilha dos Balseiros, Eldorado do Sul, Guaíba, por todo lado tem lixo. O peixe anda escasso e o pescador tem de ir pescar cada vez mais longe”. Vilmar defende com vigor a idéia de repovoar as águas do delta com alevinos, mas sabe que também é necessário ter águas razoavelmente limpas para que eles sobrevivam.
“Nunca se pescou tanto lixo por aqui”, diz Samuel Oliveira, pescador nascido na ilha, que já participou em três outras ocasiões de semelhantes tentativas de sensibilizar a população para a necessidade de produzir menos lixo. Ele observa a coleta dos 46 barcos, que trouxeram para o cais mais de 900 sacos cheios de dejetos. “Encontramos de tudo”, comenta, enquanto pescadores mais jovens, entre eles o seu filho Leandro, desembarcam uma poltrona em frangalhos, peças carcomidas de automóvel, latas de óleo, placas de isopor e pedaços de plástico irreconhecíveis. A neta de Samuel, de doze anos, mostra uma mão de boneca que escapa de um dos sacos.
“Grande parte desse lixo é de Porto Alegre”, afirma Leandro Oliveira, que já esvaziou o seu barco e agora ajuda os companheiros. Ele calcula que houve “um aumento de uns 40%” em relação à coleta de 2003, da qual ele também participou. E acha que os peixes estão desaparecendo na mesma proporção. Perguntado sobre o que mais o impressionou na pescaria do lixo, não teve dúvidas: “o lixo hospitalar”. Segundo ele é comum encontrar seringas e agulhas entre os dejetos. Samuel, ouvido separadamente, tem um discurso semelhante. “Esses dias veio uma agulha de soro com mangueira na rede. Isso nunca tinha acontecido antes”. Samuel, pai de Leandro e irmão de Salomão, Esequias, José Rosado e Saul, todos pescadores, vê com preocupação o futuro das gerações futuras. “Sou de um tempo em que se tirava água do rio para beber e cozinhar”.
Falando à Ecoagência de Notícias, o secretário estadual do Meio Ambiente, Adilson Troca, admitiu que o “Mutirão” foi um ato simbólico, considerando-se a proporção do problema da poluição das águas do Guaíba. As latas, garrafas, coisas plásticas e demais dejetos flutuantes são a parte visível de um problema maior. E o que a Sema tem feito a respeito do lixo químico das indústrias, principalmente as usinas de celulose cujos escoamentos diários para as águas que abastecem a capital gaúcha se medem aos metros cúbicos? O secretário acredita que um trabalho sério está sendo feito junto às indústrias, e que o nível desse tipo de poluição vem diminuindo paulatinamente. “O importante no evento de hoje é que a consciência da importância de se conservar o meio ambiente está crescendo, e as famílias dos pescadores já sabem que esta conservação é essencial não apenas para a vida deles, mas para a sobrevivência de todos os seres vivos que compartilham os bens da natureza.”
Os organizadores ofereceram um almoço aos participantes, na sede do Colônia Z-5. No comando das taquaras, Seu Almiro, que se intitula pescador, assador e gaúcho, assou 154 anchovas que foram servidas com saladas e pirão a todos os presentes.
Outras colônias e sindicatos de pescadores participaram do mutirão, como a Z-20 de Estrela, a Z-1 de Rio Grande, a Z-2 de São José do Norte e o sindicato de Pelotas.
O lixo desembarcado no cais foi recolhido por caminhões do DMLU (três viagens) e encaminhado ao setor de reciclagem, na própria Ilha da Pintada.
“O maior lixo foi feito pelas autoridades”, afirma Samuel Oliveira. “É o cano da bóia, no meio do canal, em frente à usina do gasômetro. Ninguém pode pescar ali. O peixe é pouco e tem gosto ruim. Se interrompessem aquele esgoto ia melhorar 200% e diminuir o custo de limpar a água”.
Reportagem e fotos do Jornalista José Fonseca para a EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais - www.ecoagencia.com.br .