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AgirAzul Memória
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Lutzenberger testemunha indianos contra a biogética

Protesto de 500 mil por uma agricultura ecológica

Viena - "Vinte por cento da superfície da Holanda está tapada por cimento, asfalto e edifícios, pelo que qualquer ser inteligente deveria reconhecer que assim não se pode seguir", segundo o ecologista e ex-secretário nacional do meio ambiente do Brasil, José Lutzenberger..

Já não existem dúvidas de que a humanidade tem que trocar de ética para poder sobreviver, asseverou em entrevista exclusiva ao IPS em Viena.

"Digo ética, porque com racionalidade nada tem que ver o que estamos fazendo com nós mesmos e a Terra", disse ao explicar sua recente experiência em uma visita à Índia, por convite do líder religioso budista tibetano Dalai Lama. Nenhum capitalista compraria uma custosa máquina sabendo que vai estar 16 horas por dia parada ou estorvando a todo o mundo na fábrica, disse, sublinhando "a atitude totalmente pervertida" de um consumidor ocidental frente ao automóvel.

"Mas o que custa um automóvel cada um poderia comodamente tomar táxi para o resto da vida, e isso sim tem que reinventar nada novo no mundo" disse.

Por isso, se mostra convencido de que "o que estamos fazendo não é em nosso interesse, não é tampouco em interesse de uma economia nacional, é somente de interesse para certos industriais"

Todavia, sob a impressão de sua recente viagem à Índia, Lutzenberger pôs ênfase, na série de discursos e seminários que realizou em Viena, a necessidade de uma nova ética.

Como exemplo que poderia ter transcendência, segundo o ecologista, citou o budismo, sem pretender a conversão da humanidade a uma religião em particular. "O budismo, ao contrário da tradição judaico-cristã do Ocidente, nunca distinguiu entre criação e criador"' e portanto mantém uma ética holística, com uma percepção global e integral da natureza e do homem", explicou. 

O homem tem que chegar a uma concepção ecológica da Terra — Gaia, uma unidade viva da qual faz parte a humanidade, asseverou. 

Durante sua estadia no sul da India, coube-lhe participar de uma manifestação em Bangalore a qual concorreram 500 mil agricultores para protestar contra a biogenética como instrumento para adquirir propriedade industrial sobre a natureza, e contra o GATT (Acordo Geral de Tarifas de Comércio) como um convênio para globalizar a loucura industrial".

Observou que na Ásia, aparentemente, a conscientização está mais adiantada que no Ocidente, com sua suposta "legendária racionalidade"

Opinou que não se teria que olhar na direção da Ásia ou outras religiões para compreender que a via de desenvolvimento atual resulta "ingovernável" e que as catástrofes globais são previsíveis.

O ecologista gaúcho mencionou como um dos principais caminhos para a humanidade a crise energética, donde a irresponsabilidade dos produtores atuam em uma contínua sobreoferta de matéria prima de reservas limitadas, reduzindo assim os preços em vez de aumentá-los.

(Com Federico Nier-Fischer - publicação autorizada pelo IPS)